domingo, 12 de janeiro de 2014

DUAS HOMENAGENS ATRASADAS

O meu último Natal foi  tristemente marcado pela partida de alguns amigos. Por razões íntimas e sem querer desmerecer algum dos outros, duas dessas despedidas me marcaram profundamente. Aqui postei sobre o assunto umas fotos e um poema, mas só agora me sinto capaz de dizer algo mais sobre cada uma e evocar o vazio que me deixaram no coração com duas músicas que cada uma delas me sugere

A FILÓ

Conhecia a Filó desde que me conheço. Cresci entre a casa dos meus pais, a rua e a casa dos avós dela, suficientemente grande para acolher uma família enorme. Eu era apenas mais uma. Ali paravam todos os amigos. As férias eram repartidas entre as casas de Matosinhos e a quinta de Vilar do Pinheiro. Mas sempre juntas. E juntas nos apaixonámos por quem, mais tarde, connosco se casou. E juntos cresceram os nossos filhos.  Filha de uma portuguesa e dum siciliano, corria-lhe nas veias essa mistura de sangue e de modos de estar na vida. A nossa vida era uma festa e corria entre conversas, e gargalhadas. E como era fresca a gargalhada dela que incendiava de alegria todos nós.A única coisa que nos separou foi a sua longa doença.
Voou quase em cima deste Natal, mas esteja onde estiver ela perceberá porque para ela eu escolhi uma das canções que mais cantámos e dançámos. Repousa, Filó e espero ter-te à minha espera quando eu também voar: 



A NATÉRCIA MARIA

A Natércia surgiu entre nós depois de casar e vir viver em Matosinhos. Não foi uma amiga de longos anos. Foi-o o tempo necessário para se tornar mais uma do grupo. Distinguia-se de nós pela sua veia artística e voz potente, que dedicou ao fado. Era uma verdadeira senhora no percurso de vida que escolheu. Os tempos em que convivemos foram de camaradagem e da amizade. Deus roubou-nos a Natércia porque queria ter junto de si a sua voz. Descansa, amiga e até sempre:




segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

 In memoriam da Filó e da Natércia, 2 amigas que partiram de nós neste Natal 














Ladainha dos póstumos Natais

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

David Mourão-Ferreira, in "Cancioneiro de Natal"