sábado, 29 de janeiro de 2011

HISTÓRIA DE INÊS



O teu olhar
Ensinou-me tanta coisa
E até me contou histórias
Algumas de encantar
Outras mais para pensar
E debater contigo
O desenvolver da sua teia.

Falavas-me do Graal
Que perseguias
E do Rei que mais gostavas
Mas as que eu preferia
Eram as da bela Inês,
A rainha sem o ser.
Conta-me tudo outra vez.


gm

Foto -IL

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

TOCANDO EM FRENTE

Mão amiga fez-me chegar esta beleza na voz de Bethania. Há muito que não a ouvia (a música) e deu-me um prazer imenso. E porque tem chovido tanto guardei em mim especialmente um verso "é preciso chuva para florir"

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

LISBOA

Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cored
Lisboa com suas casas
De várias cores...


À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, fico só a pensar.
Se, de noite, deitado mas desperto,
Na lucidez inútil de não poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque há sono,
E, porque há sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantásticos,
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,
Que Lisboa com suas casas
De várias cores.

Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.
A força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.


Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De várias cores.

Álvaro de Campos, in "Poemas"

sábado, 22 de janeiro de 2011

PARA UMA DIA QUE QUEREMOS DE PAZ

ODE À PAZ


Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,


Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!


NATÁLIA CORREIA

Esperemos que esta paz não seja antecessora de grandes tempestades

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

JOÃO VILLARET - UMA SAUDADE DE 50 ANOS


João Henrique Pereira Villaret (Lisboa, 10 de Maio de 1913 — Lisboa, 21 de Janeiro de 1961) foi um actor, encenador e declamador português.

Depois de frequentar o Conservatório Nacional de Teatro, começou por integrar o elenco da companhia de teatro lisboeta Amélia Rey Colaço-Robles Monteiro.
Mais tarde, fez parte da companhia teatral Os Comediantes de Lisboa, fundada em 1944 por António Lopes Ribeiro e o seu irmão Francisco, mais conhecido por Ribeirinho.
Teve uma interpretação considerada antológica na peça Esta Noite Choveu Prata, de Pedro Bloch, em 1954, no extinto Teatro Avenida, em Lisboa.


No cinema, Villaret surge em:
O Pai Tirano, de António Lopes Ribeiro (1941), numa breve aparição, como pedinte mudo;
Inês de Castro, de Leitão de Barros (1945), onde representa Martin, o bobo;
Camões, de Leitão de Barros (1946);
Três Espelhos, de Ladislao Vadja (1947), onde representa o inspector;
Frei Luís de Sousa, de António Lopes Ribeiro (1950), no papel de criado;
 Primo Basílio, de António Lopes Ribeiro (1959).
Nos anos 1950, com o aparecimento da televisão, transpõe para este meio de comunicação a experiência que adquirira no palco e em cinema, assim como em programas radiofónicos. Aos domingos declamava na RTP, com graça e paixão, poemas dos maiores autores nacionais
Ficaram célebres, entre outras, as suas interpretações de:
Procissão, de António Lopes Ribeiro (1955);
Cântico negro, de José Régio;[2]
O menino de sua mãe, de Fernando Pessoa.

Na música é de destacar, pela sua originalidade:
Fado falado, de Aníbal Nazaré e Nelson de Barros (1947), na revista 'Tá Bem ou Não 'Tá?, onde se pode ouvir: «Se o fado se canta e chora, também se pode falar».
(Extraído de Wikipédia)

FADO FALADO

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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

ESPERA

"A tarde demorou-me nos teu braços.
Até essa noite que encheu de sol os meus
Dedos e de luar os teus olhos"

E como esperei esse dia:
Cansada
Descansei nas nuvens
Olhei o poente
abracei a noite
O mar falou-me de ti
Abri os olhos
E
Tinha-te num abraço.

MC, " Nunca fui eu em tempo algum"

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

OUÇAMOS A VOZ CLARA DE VERGÍLIO FERREIRA


Pensar o Meu País


Pensar o meu país. De repente toda a gente se pôs a um canto a meditar o país. Nunca o tínhamos pensado, pensáramos apenas os que o governavam sem pensar. E de súbito foi isto. Mas para se chegar ao país tem de se atravessar o espesso nevoeiro da mediocralhada que o infestou. Será que a democracia exige a mediocridade? Mas os povos civilizados dizem que não. Nós é que temos um estilo de ser medíocres. Não é questão de se ser ignorante, incompetente e tudo o mais que se pode acrescentar ao estado em bruto. Não é questão de se ser estúpido. Temos saber, temos inteligência. A questão é só a do equilíbrio e harmonia, a questão é a do bom senso. Há um modo profundo de se ser que fica vivo por baixo de todas as cataplasmas de verniz que se lhe aplicarem. Há um modo de se ser grosseiro, sem ao menos se ter o rasgo de assumir a grosseria. E o resultado é o ridículo, a fífia, a «fuga do pé para o chinelo». O Espanhol é um «bárbaro», mas assume a barbaridade. Nós somos uns campónios com a obsessão de parecermos civilizados. O Francês é um ser artificioso, mas que vive dentro do artifício. O Alemão é uma broca ou um parafuso, mas que tem o feitio de uma broca ou de um parafuso. O Italiano é um histérico, mas que se investe da sua condição no parlapatar barato, na gritaria. O Inglês é um sujeito grave de coco, mas que assume a gravidade e o ridículo que vier nela. Nós somos sobretudo ridículos porque o não queremos parecer. A politiqueirada portuguesa é uma gentalha execranda, parlapatona, intriguista, charlatã, exibicionista, fanfarrona, de um empertigamento patarreco — e tocante de candura. Deus. É pois isto a democracia?

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 2'

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

EMPURREI O AMOR PARA DENTRO DO POEMA

Empurrei o amor para dentro do poema
Para que ele copiasse
A forma, o ritmo e o nexo
Que o poema tem.


Foi uma tarefa impossível, porém.
O amor não é matéria
Logo não se adapta
À forma das letras
E muito menos cabe nas palavras
Que a métrica exige.


Tentei dar-lhe ritmo
Só que como o amor é surdo
Não respeita cadência nem padrão.


E dar-lhe nexo foi fatal
Porque ávido como é
Se dispersa em rumos diversos
Conforme melhor lhe convém
Ou mais lhe agradam os versos.


Convenci-me então
Que era impossível
Arrumar o amor num poema.
Assim, para evitar que se perdesse por aí
Ou se metesse em algum problema
Peguei nele, afaguei-o
E com cuidado
Guardei-o de novo no meu coração


GM

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

JOÃO DE DEUS

Em 1896 faleceu João de Deus. Quantos de nós aprendemos a ler pela sua cartilha! A nossa geração e as gerações antes de nós  tiveram a felicidade de ter professores espantosos e interessados. As que nos sucederam também tiveram professores semelhantes. Só que para azar deles os governos estragaram tudo com as modernices e a ideia do ensino massificado. Depois para esconderem as misérias inventaram estatísticas impressionantes e as Novas Oportunidades. Só falta fechar as portas das escolas!!!!

domingo, 9 de janeiro de 2011

BOM DIA MAFALDA

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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A CHUVA



A chuva,
Que não pára há tantos dias,
Contém no seu ritmo variado
Algo que a liga à poesia.

Ao bater nos vidros,
Ecoa como uma estranha melodia
Enquanto vai desenhando,
Em trajecto rápido
E sinuoso,
Uma espécie de cenário animado
Que sugere
A atitude do poeta
Que, por obrigação
Mas com falta de inspiração,
Risca na folha de papel,
Em movimento ansioso,
Palavras e traços sem nexo
Apenas para não ficar nervoso.

gm


Fotografia in http://momenttaneos.blogspot.com/2010/10/chuva.html

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

ADORAÇÃO DOS REIS MAGOS

Jesus sorri. Que ternura,
Que doce favo de luz
Vejo brilhar na candura
De seus dois olhos azuis!


Chegam os Magos. De joelho,
Cheios de unção e de amor,
Beijam o pesinho vermelho
Do pequenino Senhor.


Trazem-lhe mesmo um tesouro
Lembrando glória e tormento:
Caçoulas de incenso e ouro
É a mirra do sofrimento.


Ó Reis do Grande Oriente,
Por que lembrastes, então,
Á mãe do louro inocente
A dor sem fim da Paixão?


Não vedes que a Virgem chora
Olhando a mirra cruel?
É que ela se lembra agora
Da esponja embebida em fel.


Talvez não vísseis o lindo
Bando gentil de pastores
Que o rodearam sorrindo,
Mas só lhe trouxeram flores!


AUTA DE SOUSA