sexta-feira, 9 de abril de 2010

TESOS SIM, MAS CONSERVEMOS A DIGNIDADE E O PUDOR CÍVICO

Portugal foi quase sempre um país “teso”. E de todas as vezes que foi rico não soube gerir o dinheiro esbanjando-o e esgotando as suas fontes de rendimento. Em várias dessas ocasiões, para tentarem remediar a situação, alguns dos nossos reis decretaram umas leis denominadas Pragmáticas e em que se restringia à nobreza, à família real e ao culto religioso o uso de sinais exteriores de riqueza tais como tecidos e metais preciosos para além de jóias. O povo tinha que ser posto no seu lugar e não pensar em luxos porque só os maiores as eles tinham direito. Que se amanhasse que já por isso era povo e como tal o seu único dever era trabalhar. Esta explicação que aqui apresento sobre as ditas leis é muito ligeira mas achei necessário falar nela para que se possa melhor entender o objectivo das minhas palavras.
Acabo de ler na revista Sábado desta semana o artigo “Gestores com salários de milhões”. Bem escrito, bem fundamentado e suficientemente bem explícito do momento que estamos a viver. Depois de se falar em especial de alguns dos gestores coroados deste país, surge um gráfico claríssimo que nos revela para além do valor do salários e bónus desses senhores (não adjectivo porque não sei como qualificar a seguir a bilionário: será trilionário, quadrilionário e assim sucessivamente?) a quanto e a quê eles podem ser equivalentes. Fiquei assim a saber, e cito uns poucos como exemplo, que com o de António Mexia da EDP se poderiam fazer 18 viagens ao espaço no valor unitário de 168.000€ ou pagar o ordenado médio a 112 funcionários da Companhia durante um ano, o de Zeinal Bava da PT chegava para 4 escolas do pré-escolar que custassem cada uma 493.155€, o de Ana Maria Fernandes, da Edp Renováveis, pagaria um fracção de 0,022 de hospitais no valor 100.000.000€, o de Granadeiro também da PT dava para 0,048% do estádio D. Afonso Henriques, o de Manuel Ferreira de Oliveira da Galp permitiria pagar 1,06 esquadras se elas custassem 34.200.000€. A lista é longa e não vou aqui repisá-la. Citei estes mas se quiserem saber mais é só comprarem a Sábado, pedirem-na emprestada ou lerem-na na Biblioteca local. Vale a pena para que possam compreender toda a imoralidade da actuação deste governo: não aumenta pensões, não quer aumentar ordenados, espanta o funcionalismo público e permite a escandaleira do aumento dos gestores, por sinal também funcionários públicos na medida em que ganham os ditos milhões em empresas públicas. Por isso expliquei o que eram as Pragmáticas, para todos verem que os nossos governantes actuais estão a tomar medidas semelhantes favorecendo uns senhores seus protegidos numa atitude semelhante à dos reis relativamente à nobreza no Antigo Regime. E não contentes, estes grandes príncipes da gestão nacional, alguns dos quais envolvidos em processos de corrupção, perante a informação do possível congelamento dos seus tostões, logo reagiram ameaçando o estado com queixas no tribunal porquanto, pelos acordos feitos no acto da sua contratação, têm direito a todos os bónus prometidos desde que tenham atingido os objectivos que lhes foram determinados. Aqui vem o ridículo da situação. Presume-se que os objectivos de um gestor é através de uma gestão correcta aumentar os lucros da empresa . Ora vejamos 2 exemplos para vermos como alguns os aumentaram:
Fernando Pinto (TAP) – a dívida da companhia diminuiu ( não despareceu). Milagre do gestor? Não. Foi o preço do combustível que baixou.
António Mexia (EDP) – O prémio recebido pelo seu trabalho foi devido aos grandes lucros que a empresa teve no ano passado. Por acaso lembram-se quanto pagámos todos a mais pela conta da luz?
Com estes factores de apoio qualquer dona de casa habilitada faria o mesmo em circunstâncias semelhantes. É uma questão de bom senso.
Se estes senhores fossem gestores de empresas privadas, a minha boca não se abriria. Só que embora não o sejam de carreira são, e repito, tão funcionários públicos como todos quantos têm o mesmo patrão – o Estado. Os de carreira, embora cumpram os seus objectivos, nada recebem em troca e, pelo contrário, vivem continuamente receosos do fim dos seus empregos, enquanto os outros, os arrivistas, continuam a actuar não no sentido dos nossos interesses mas dos próprios. Tal como os reis eram muitas vezes reféns da nobreza, os nossos governantes nas empresas privadas agem como se fossem reféns de quem as gere. Como ex-funcionária pública, ex porque na aposentação, mas sobretudo como portuguesa a protecção pragmática mete-me nojo. Esta acção do governo é uma cobra que o há-de matar. Pena que nós venhamos a ser as principais vítimas. Lastimável toda a desonestidade e falta de pudor cívico desses reizinhos de trazer por casa tão idolatrados, procurados e melhor remunerados.
Maior pena que o governo pactue com isto!!!


Mas cada um sabe de si e Deus de todos. Só que quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão que neste caso somos NÓS.

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