terça-feira, 28 de abril de 2009

PARA REFLECTIRMOS NO QUE EÇA ESCREVEU HÁ MAIS DE 100 ANOS


"O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Todo o viver espiritual, intelectual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce... O comércio definha. A indústria enfraquece. O salário diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo."

Eça de Queiroz in Uma Campanha Alegre, 1871

segunda-feira, 27 de abril de 2009

E O QUE MAIS SE HÁ-DE LER... ALGUÉM PENSAVA QUE ISTO IRIA ACONTECER?

Russos acham que Salazar é um exemplo
por LUSAHoje


Ditador português era visto na época da ex-União Soviética como um opressor.
Na época soviética um símbolo da opressão fascista, comparado a Franco, Hitler ou Mussolini, o ditador português Oliveira Salazar é agora visto na Rússia como um político exemplar para os actuais dirigentes do país.
Em 1950, Salazar "teve a honra" de figurar numa canção de protesto contra o imperialismo norte- americano, com música do grande compositor Serguei Prokofiev.
Num cartaz soviético podia-se ver um mapa de Portugal com pessoas pequenas martirizadas por um falcão com um rosto humano tenebroso. (...) A figura de Salazar voltou a ser abordada quando Putin entregou o cargo de Presidente russo a Dmitri Medvedev (2008) e alguns viram nisso uma tentativa da transformação do primeiro em "pai da nação".


in DN online

Agora fiquemos à espera das reacções dos variados partidos deste país!

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domingo, 26 de abril de 2009

UM GUERREIRO, UM HERÓI, UM SANTO PORTUGUÊS


NUN'ÁLVARES PEREIRA

Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
faz que o ar alto perca
seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,
faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
que o Rei Artur te deu.

'Sperança consumada,
S. Portugal em ser,
ergue a luz da tua espada
para a estrada se ver!


FERNANDO PESSOA, in Mensagem

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sexta-feira, 24 de abril de 2009

LÁ VAMOS... PARA ONDE?

UM AVISO À NAVEGAÇÃO DESTE PAÍS

"Nós temos o governo que merecemos, temos os partidos que merecemos, temos os sub-sistemas de saúde e educação que merecemos, porque somos responsáveis pela nossa sociedade ... Cabe-nos a nós impor regras, exigir condutas e, quando for necessário, substituirmos os governantes"

Ramalho Eanes dixit em Grândola, Vila Morena. Esta é clareza com que falam os homens de Estado. Que diferença da escória que nos rege! E que chamada de atenção para todos nós!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

DIA MUNDIAL DO LIVRO

Claro que este blog não poderia deixar de comemorar um dia tão importante. Por isso aqui fica uma poesia que evoca os nossos amigos livros
AS ÁRVORES E OS LIVROS

As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.
Jorge Sousa Braga

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quarta-feira, 22 de abril de 2009

QUERO FICAR SEMPRE ESTUDANTE...

Lembram-se com toda a certeza destes primeiros versos da canção "Amores de estudante", que é uma espécie de hino dos escolares cá do Porto. Pois eu lembro-me bem dela e cantei-a muitas vezes. E pelo que acabo de ouvir até o nosso governo vai dar uma mão para a sua generalização de hino para a juventude deste país porquanto o nosso Primeiro Ministro, não contente com o apoio dado às Novas Oportunidades (um ensino que pela sua complexidade e profundidade tem tido uns resultados espantosos!!!) vem agora obrigar a malta deste país a 12 anos de escolaridade. Todos sabemos que os 3 anos do Secundário só interessam para quem vai prosseguir estudos. Se já há fuga nos 2º e 3º ciclos, para quem vem agora o engenheiro Pinto de Sousa obrigar a catraiada a aguentar mais aqueles anos finais?

Senhor Primeiro Ministro:
O senhor deve julgar que nós somos parvos, mas olha que não somos. Só parecemos. O que o Senhor pretende fazer é uma lavagem da taxa do desemprego. Aguentando os alunos na escola aquela não diminui, mas pelo menos não aumenta tanto. Não sei como o senhor governa a sua casa. Mas se for como o país, deve ser uma desordem. Realmente só cabeças iluminadas como a sua é que acreditam que isto é para o bem dos jovens. Já temos o maior número da Europa de licenciados no desemprego (nas nossas informações que são sempre diferentes das suas estatísticas) e agora quer por obrigatoriamente os nossos filhos à porta das Universidades? Para quê? A não ser que esteja a pensar que vai continuar no governo e que daqui a um ano vai estender a escolaridade obrigatória pelo menos até à licenciatura de Bolonha. Preocupe-se mas é em reformular os cursos do secundário para que os alunos saiam com alguma formação que lhes dê saídas profisssionais. Isso é que é de governante. O que lhes está a dar resume-se nos versos seguintes dos Amores de Estudante: pr'a eternizar a ilusão de um instante. Só que esta ilusão instantânea é sua. Nossa não é de certeza. Nem dos nossos alunos. Custou mas já aprendemos a ler as segundas intenções que as suas medidas contêm. Deixe de brincar ao faz de conta e no pouco tempo que lhe resta para mandar em nós não nos passe atestados de maluquinhos. Os que passou já prescreveram e NÓS ESTAMOS FARTOS...

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domingo, 19 de abril de 2009

PARA MEDITARMOS NESTE DOMINGO

Alguém me mandou este texto, dizendo ser da autoria de Pedro Abrunhosa. Não sei se isso é verdadeiro. Mas que o texto contém muitas verdades é verdade. Aqui o passo a partilhar com vocês:

O que eu gostaria de dizer é que o meu avô, pai do meu pai, era um modesto, mas, segundo rezam as estórias que cruzam gerações, muito bom professor e, sobretudo, um ser humano dotado de rara paciência e bonomia. Leccionava na província, nos anos 30 e 40, tarefa que não deveria ser fácil à altura: Salazar nunca considerou a educação uma prioridade e, muito menos, uma mais-valia, fora do eixo Estoril-Lisboa, pelo que, para pessoas como o meu avô, dar aulas deveria ser algo entre o místico e o militante. Pois nessa altura, em que os poucos alunos caminhavam uma, duas horas, descalços, chovesse ou nevasse, para assistir às aulas na vila mais próxima, em que o material escolar era uma lousa e uma pedaço de giz eternamente gasto, o meu avô retirava-se com toda a turma para o monte onde, entre o tojo e rosmaninho, lhes ensinava a posição dos astros, o movimento da terra, a forma variada das folhas, flores e árvores, a sagacidade da raposa ou a rapidez do lagarto. Tudo isto entrecortado por Camões, Eça e Aquilino. Hoje, chamaríamos a isto ‘aula de campo’. E se as houvesse ainda, não sei a que alínea na avaliação docente corresponderia esta inusitada actividade. O meu avô nunca foi avaliado como deveria. Senão deveria pertencer ao escalão 18 da função pública, o máximo, claro, como aquele senhor Armando Vara que se reformou da CGD e não consta que tivesse tido anos de ‘trabalho de campo’. E o problema é que esta falta de seriedade do estado-novo no reconhecimento daqueles que sustentaram Portugal, é uma história que se repete interminavelmente até que alguém ponha cobro nas urnas a tais abusos de autoridade. Perante José Sócrates somos todos um número: as polícias as multas que passam, os magistrados os processos que aviam, os professores as notas que dão e os alunos que passam. Os critérios de qualidade foram ultrapassados pelas estatísticas que interessa exibir em missas onde o primeiro-ministro debita e o poviléu absorve.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

SOMOS LIVRES

O TEMPO REPETE-SE. ASSIM COMO A HISTÓRIA

Em 1974, durante a dita Revolução dos Cravos, os anti-fascistas deste país entoavam a canção que acabamos de ouvir "SOMOS LIVRES" como uma bandeira da realização do seu desejo de liberdade e de proclamação das ideias socialistas. Atentem bem na letra dela

Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.
Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.
Uma gaivota voava, voava,
asas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.
Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo qualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.
Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.
Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás.
HOJE, com um país desfeito pelas inúmeras bandalheiras de que tem sido alvo pelos seus próprios governantes, que, indiferentes à solução da crise importada dão a prioridade aos resultados das eleições que os podem manter no poleiro, acho que poderíamos pegar novamente nessa canção e adaptá-la aos tempos que vivemos. Mas porque "somos um povo que cerra fileiras, parte à conquista do pão e da paz" e por que "somos livres" e porque a música está a mudar muito, os Xutos e Pontapés já criaram uma nova canção revolucionária que representará com maior realidade este povo que alguém parece querer que se torne "SEM EIRA NEM BEIRA"

"SEM EIRA NEM BEIRA" DOS XUTOS E PONTAPÉS: A CANÇÃO QUE VAI DAR O TOM Á REVOLUÇÃO DE 2009

AQUI VAI A LETRA PARA IREM ENSAIANDO. AS ELEIÇÕES ESTÃO MESMO AÍ À PORTA

“Anda tudo do avesso
Nesta rua que atravesso
Dão milhões a quem os tem
Aos outros um passou - bem
Não consigo perceber
Quem é que nos quer tramar
Enganar
Despedir
E ainda se ficam a rir
Eu quero acreditar
Que esta merda vai mudar
E espero vir a ter
Uma vida bem melhor
Mas se eu nada fizer
Isto nunca vai mudar
Conseguir
Encontrar
Mais força para lutar…
(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a comer
É difícil ser honesto
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir
Ainda espero ver alguém
Assumir que já andou
A roubar
A enganar o povo que acreditou
Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar…
(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a foder
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Mas eu sou um homem honesto
Só errei na profissão”

terça-feira, 14 de abril de 2009

ALGUÉM ME ANDA A TRAMAR E A USURPAR O NOME

JURO, (palavra de avezinha - como diziam as minhas filhas quando pertenciam às Guias de Portugal - não, não, esta era não era uma associação fascista, não confundir com a saudosa MP de que tenho tão boas memórias) que embora identificada com o meu nome, a poesia abaixo que me foi enviada em comentário, NÃO É DA MINHA AUTORIA. Gostaria que fosse, porque é muito bonita, mas não é. Acho que sei de quem é mas não digo.

PALAVRAS

As palavras
São
Traçoeiras
Dizem
O que não querem
Dizer
Fogem
Pelos caminhos
E
Voltam
A aparecer
É um jogo perigoso
Este querer
E não querer
Levam
E trazem
O que não queremos
Ver
É o que gostam
Mais de fazer


G.MARIA
(a propósito de ..."haste mais tesa......de um certo amor-prefeito")

Espero que tenham ficado esclarecidos.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A GUERRA DOS AMORES-PERFEITOS FAZ-ME LEMBRAR ESTA CANÇÃO DOS NOSSOS VERDES ANOS. QUE TAL DEDICÁ-LA A TODOS/AS SEXYGENÁRIOS/AS QUE VISITAM ESTE BLOG?

AMOR-PERFEITO

Ofereceram-me um amor perfeito q "doente" e que recuperei com muita ternura e cuidado.
Pela sua ânsia de viver merece este mimo de Cecília de Meireles


Naquela nuvem, naquela,
mando-te meu pensamento:
que Deus se ocupe do vento.

Os sonhos foram sonhados,
e o padecimento aceito.
E onde estás, Amor-Perfeito?

Imensos jardins da insônia,
de um olhar de despedida
deram flor por toda a vida.

Ai de mim que sobrevivo
sem o coração no peito.
E onde estás, Amor-Perfeito?

Longe, longe, atrás do oceano
que nos meus olhos se aleita,
entre pálpebras de areia...

Longe, longe... Deus te guarde
sobre o seu lado direito,
como eu te guardava do outro,
noite e dia, Amor-Perfeito.

Cecilia Meireles

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sábado, 11 de abril de 2009

SINOS DE ALELUIA

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Páscoa


Um dia de poemas na lembrança
Que o passado inspirou.
A natureza inteira a florir
No mais prosaico verso.
Foguetes e folares,
Sinos a repicar,
E a carícia lasciva e paternal
Do sol progenitor
Da primavera.
Ah, quem pudera
Ser de novo
Um dos felizes
Desta aleluia!
Sentir no corpo a ressurreição.
O coração,
Milagre do milagre da energia,
A irradiar saúde e alegria
Em cada pulsação.

Miguel Torga
RESSURREIÇÃO
As japoneiras derramaram
As flores em profusão
E o chão cobriu-se de pétalas coloridas
Os jarros imaculados
Erguiam-se em direcção ao céu
Os montes cobriram-se de amarelo
Envolvendo tudo de luz
E eu senti na alma
A ressurreição
Olhando o meu jardim
MC
Casa do Outeiro-sábado de PÁSCOA

sexta-feira, 10 de abril de 2009

PARA UMA PÁSCOA FELIZ

UMA TRADIÇÃO RECUPERADA - A QUEIMA DO JUDAS

Muitas tradições de sátira e crítica popular, que o tempo tinha começado a esquecer, têm vindo a ser recuperadas, sobretudo nas zonas mais interiores do país. Uma delas é a cébre "Queima do Judas" uma espécie de auto popular que se realiza no Sábado de Aleluia.
Esta cerimónia consiste na queima de uma ou mais figuras humanas feitas a partir de estruturas em arame e cobertas de papel. Cada boneco encontra-se recheado de foguetes que rebentarão na altura da queima, a qual ocorre no lugar público mais frequentado do sítio, após a leitura do Testamento do Judas que é um conjunto de quadras populares que satirizam o visado e de uma valente coça com cacetes. Inicialmente o fantoche simbolizava o próprio Judas Iscariote e a sua queima era o castigo pela traição feita a Jesus. Contudo, actualmente, muitas vezes estes bonecos são modelados de forma a terem semelhanças físicas com figuras locais ou nacionais que os autores da festa querem atingir com uma crítica cerrada, talvez para se vingarem delas. Será que neste Sábado de Aleluia não serão queimados, algures por este país. alguns ministros ou Secretários-gerais?
O costume da Queima de Judas mantém-se com muita força no Brasil. Aqui vos deixo uma pequena poesia brasileira relativa a essa tradição

MANHÃ DE SÁBADO DE ALELUIA

Nos ares brada o foguete
Repicam em todos os sinos!
Rola o Judas no cacete!
Que alegria entre os meninos!
Uns rasgam-lhe as calças finas
E vão-lhe o corpo arrastando
Outros tiram-lhe as botinas
E vão-lhe o fraque arrancando
Uma mocinha da casa
Vendo que tudo se arrasa
Por acolá se desliza
Gritando: - Mamãe, acuda:
Dessa casaca do Juda
Papai diz que inda precisa!
(X. de Castro)

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quinta-feira, 9 de abril de 2009

AFINAL AINDA NÃO FUI. AQUI VOS DEIXO UM POUCO DE PESSOA

quarta-feira, 8 de abril de 2009

BOA PÁSCOA E ATÉ AO MEU REGRESSO

Minha aldeia na Páscoa...

Infância, mês de Abril!
Manhã primaveril!
A velha igreja
Entre as árvores alveja,
Alegre e rumorosa
De povo, luzes, flores...

E, na penumbra dos altares cor-de-rosa
Rasgados pelo sol os negros véus
Parece até sorrir a Virgem-Mãe das Dores.

Ressurreição de Deus! (...)
Em pleno azul, erguida
Entre a verde folhagem das uveiras.
Rebrilha a cruz de prata florescida...
Na igreja antiga a rir seu branco riso de cal.
Ébrias de cor, tremulam as bandeiras...

Vede! Jesus lá vai, ao sol de Portugal!
Ei-lo que entra contente nos casais;
E, com amor, visita as rústicas choupanas.
É ele, esse que trouxe aos míseros mortais
As grandes alegrias sobre-humanas.

Lá vai, lá vai, por íngremes caminhos!
Linda manhã, canções de passarinhos!
A campainha toca: Aleluia! Aleluia! (...)

Velhos trabalhadores, por quem sofreu Jesus.
E mães, acalentando os filhos no regaço
Esperam o COMPASSO...
E, ajoelhando com séria devoção
Beijam os pés da Cruz.


Teixeira de Pascoaes

terça-feira, 7 de abril de 2009

MEDICAMENTOS, MÉDICOS E GENÉRICOS

FARMÁCIAS VERSUS ORDEM DOS MÉDICOS

Todos nós conhecemos o poder económico brutal das empresas farmacêuticas. Realmente do que elas fabricam depende não só a nossa saúde como muitas vezes a nossa sobrevivência. E elas jogam com isso a seu belo prazer. O mesmo com que vêem entrar o nosso dinheiro nos seus cofres e que é inverso ao desprazer e muitas vezes à aflição com que nós o vemos sair dos nossos. E, se isso já é notório em tempos normais, nos de crise como os que actualmente vivemos é muito pior. Quem leu os jornais ou ouviu noticiários esta semana deve ter tomado conhecimento de que há uma percentagem enorme de população, sobretudo da mais carenciada e onde está incluída a maioria dos nossos idosos, que ou já não tomam os remédios de que precisam para ter alguma melhor qualidade de vida ou vão com as receitas à farmácia e só compram aqueles para os quais têm dinheiro. Há anos já que em Portugal foi permitido o fabrico ou importação de genéricos. Creio que os meus leitores saberão o que são estes medicamentos, mas para o caso de haver algum que não saiba muito bem, eu esclareço, com a ajuda de uma definição extraída da Internet:
“Um medicamento genérico é um medicamento com a mesma substância activa, forma farmacêutica e dosagem e com a mesma indicação que o medicamento original, de marca. E principalmente, são intercambiáveis em relação ao medicamento de referência, ou seja, a troca pelo genérico é possível” (isto é podem substituir o que o médico receita porque são iguais, só muda a caixa, o nome e o laboratório). Entre nós portugueses, muito se tem discutido sobre o valor e segurança desta substituição. E por isso tememo-la. E como os grandes laboratórios sabem isso jogam com a situação sugerindo que há diferenças notórias entre os dois produtos. Mas a verdade é que se sentem lesados porque os ditos originais, como mais caros, rendem mais. O governo passou a bola para os médicos permitindo que na receita eles autorizassem ou não, com uma rubrica, a troca. E os snrs. Doutores médicos, eles que me perdoem, porque se dão muito bem (eles lá sabem porquê e nós também porque parece, mas não somos parvos) com os grandes laboratórios, assinam sempre no quadrado que proíbe a troca pelos genéricos. É tal o “hábito” que já me aconteceu receitarem-me um genérico e terem proibido a troca. Isto é, o uso frequente daquele quadrado levou-os à rotina. Perante a situação que vivemos e reconhecendo a aflição de muita gente e, porque não, a diminuição das rendas farmacêuticas, não o governo, mas o novo presidente da Associação Nacional de Farmácias permitiu a troca da medicação receitada pelos genéricos, independentemente da autorização dos médicos. A Ordem dos Médicos está em polvorosa, o governo anda com a cabeça perdida com outras coisas e não desempata e algumas pessoas estão indecisas porque não sabem o que fazer. Vou-lhes contar uma coisa que me aconteceu e que prova que toda a gente pode utilizar genéricos, se os há para os seus casos pessoais, porque eles são iguais aos tais mais carotes. Há um ano, em Roma, acabou-se-me o desentupidor do nariz, que uso por causa de uma rinite. Fui com o frasco a uma farmácia e a farmacêutica, depois de me dizer que não tinha o que eu lhe pedia, analisou a sua “Denominação Comum Internacional” ou seja uma informação que estava na caixa e que continha a explicação da fórmula química e dosagem do medicamento. Consultou um livro e logo descobriu o seu substituto italiano. Perguntou-me se queria o genérico ou um de marca, eu fui pelo primeiro e tive o mesmo resultado. Idêntica coisa já me sucedeu em Portugal com o medicamento que trata o meu colesterol. O meu cardiologista permitiu a troca e eu passei a poupar uns 20 euros por caixa. Claro que estas coisas não servem os grandes interesses económicos nem dão viagens aos doutores para voarem para os seus intermináveis congressos donde falam à família das maravilhas dos resorts pelos telemóveis de terceira geração oferecidos (nós sabemos por quem). Que me perdoem os médicos que não se deixam "acariciar" por estas ofertas. Este texto não é para esses. Mas como os tempos não estão para desperdícios, deixo aqui uma chamada de atenção aos senhores responsáveis deste país:
A venda livre dos genéricos vai permitir termos gente com mais saúde, menor absentismo no trabalho e sobretudo vai haver quem simplesmente possa viver. A vossa obrigação é zelar pelo interesse do povo. Pelo menos desta vez DEMONSTREM-NO. Assim saberemos de que lado é que estão. É que estamos todos a começar a duvidar do que realmente pretendem
... daqui a uns meses talvez descubram...

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segunda-feira, 6 de abril de 2009

ESTA É A POESIA ABAIXO, MAS CANTADA

DIZ-ME MARRANo - POESIA DA PÁSCOA JUDAICA

Diz-me Marrano, meu irmão,
onde pões a mesa para o Seder?
— Numa caverna escura e funda,
a minha Páscoa irei fazer.

Diz-me Marrano, onde vais
buscar os brancos matzos?
— Na caverna, com a ajuda de Deus,
a minha mulher os lá amassa.

Diz-me Marrano, como consegues
encontrar uma Hagadá?
Na caverna, entre as fendas,
há muito que escondi os livros lá.

Diz-me Marrano, como te
defenderás quando te ouvirem cantar?
— Se me vierem prender, com uma
canção nos lábios irei morrer.


Avrom Reisen (poeta)

“Marrano” é a designação tradicional dada aos judeus forçados a converterem-se ao catolicismo na península Ibérica, sob pena de morte e confiscação de bens, nos séculos XV e XVI. Durante séculos a expressão foi considerada depreciativa por se julgar que derivava de “porco” em castelhano, na verdade, ela é obtida pela contracção das palavras hebraicas márre (מר — amargo/amargurado) e anúze (אונס — forçado / violado) – refere-se também aos seus descendentes, muitos dos quais optam agora pelo processo de conversão para “regressar” à sua tradição ancestral. Em hebraico, os marranos são conhecidos simplesmente como “anussim” (אנוסים).

Nota - Este texto foi tirado do blog http://ruadajudiaria.com/ A sua beleza tinha que ser partilhada

sábado, 4 de abril de 2009

"GAIVOTA" CANTADA POR UMA IRMÃ QUE JÁ PARTIU

700º POST DESTE BLOG

Porque gosto muito de O'Neill achei que esta bela poesia, também cantada em fado, seria a maneira mais bonita de comemorar esta efeméride

Gaivota

Se uma gaivota viesse

trazer-me o céu de Lisboa

no desenho que fizesse,

nesse céu onde o olhar

é uma asa que não voa,

esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração

no meu peito bateria,

meu amor na tua mão,

nessa mão onde cabia

perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,

dos sete mares andarilho,

fosse quem sabe o primeiro

a contar-me o que inventasse,

se um olhar de novo brilho

no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração

no meu peito bateria,

meu amor na tua mão,

nessa mão onde cabia

perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida

as aves todas do céu,

me dessem na despedida

o teu olhar derradeiro,

esse olhar que era só teu,

amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração

morreria no meu peito,

meu amor na tua mão,

nessa mão onde perfeito

bateu o meu coração.

Alexandre O'Neill

Um grande abraço a todos os meus companheiros de voo

quinta-feira, 2 de abril de 2009

RESPOSTA PÚBLICA A UM COMENTÁRIO PRIVADO

A propósito da postagem que aqui fiz de um mapa com o Portugal Insular e Ultramarino e a que dei o título "ESTE É O MAPA DE UMA PARTE DO PAÍS EM QUE NASCI E CRESCI E QUE ME ROUBARAM", um anónimo, escondido atrás das iniciais BC, fez o seguinte comentário:

ROUBARAM????? Este mapa é parte de um um País onde nasci quase há 50 anos(no seio de uma sã família que desde cedo me ensinou os valores da DEMOCRACIA)onde a falta de liberdade e a repressão reinavam. Onde os povos autocnes dos agora países livres eram "escravizados" pelos seguidores dos srs. ditadores do governo de então.

Só saudosistas do fascismo, podem, sem qualquer pudor ou respeito pela liberdade do HOMEM "dizer" que este Mapa é parte do país em que nasceram e lhe roubaram


Perante essas afirmações pouco consistentes e baseadas em conceitos pessoais de fascismo e democracia, construídos no pós 25 de Abril, não poderia de modo nenhum ficar calada.
Em primeiro lugar não reconheço a este anónimo BC competência para avaliar um regime de que não tem memórias. Só se avalia aquilo de que se têm vivências. Atendendo a que ainda não tem 50 anos, terá nascido pelos anos 60 do século XX. Em 1974 andaria pois pelos 14 anos. Seria aquilo a que chamamos “um puto”. Eu, pelo contrário, já tinha 32 anos, 2 filhas, 2 crises académicas, amigos que foram presos, outros que lutaram nas diversas partes de África e da Ásia. Destes perdi alguns. Outros voltaram, mas se não trouxeram mazelas físicas ainda conservam as psicológicas. Contudo é interessante notar um facto que é muito pouco falado porque convém a algumas pessoas. O 25 de Abril não foi feito por esta gente que partiu obrigada. Se consultar as listas dos “heróis da revolução” verificará que quem a fez foram os tropas de carreira, os que iam para lá ganhar bom dinheiro e entre os quais houve o menor número de baixas. Eu sei porquê, mas não lhe digo. Deixo-o procurar as razões. Vai-lhe ser salutar.
Embora possa não acreditar eu fui criada pelo homem mais democrata que conheci – o meu pai. Ele ensinou-me e deu-me a oportunidade de participar directamente no processo de tomada de decisões. Não sei se sabe, mas esta é a base do conceito de democracia, seja ela familiar ou política. Por isso tenho um conceito de democracia muito saudável.
Como vê, e pelo que disse atrás, eu tinha todas as razões para não gostar do fascismo, aquele regime ditatorial de extrema-direita, de partido único, caracterizado por exacerbado nacionalismo, corporativismo, censura à imprensa, intolerância política, racismo e uso da violência física contra os opositores. Mas vivi nele e apesar das agruras que senti não me dei mal. Por isso compreendo que diga que eu tenho saudades do fascismo. Só que lhe vou revelar um segredo: a falar francamente tenho-me dado muito pior agora. E por isso aqui vai outro segredo: Eu não tenho saudade do fascismo, SIMPLESMENTE PORQUE NESTE MOMENTO ESTAMOS A VIVER NUM ESTADO FASCISTA, SÓ QUE DE OUTRA COR - A DO PARTIDO NO PODER.
Não entende? É natural. Para compreender isto precisa de ter as experiências do antes do 25 de Abril (que não tem) e do logo depois (que não compreendeu) e comparar com o momento presente. Não estou a falar de crise. É de política. É capaz de me explicar qual a diferença entre um partido único e um partido com maioria absoluta? Em ambos os casos não precisam de ninguém para discutir decisões pois que têm o poder todo na mão. E mesmo que sejam contestados, os “cães ladram e a caravana passa”. Que é que se passa entre este governo e a Assembleia da República para além de insultos e demagogia? Nada. Por mais que a oposição se esforce.. . NADA. A intolerância do partido no poder é total. Diríamos que igualzinha ao antes 25 de Abril. Só que com mais arrogância e falta de vergonha.
Censura? Não, não há os homens do lápis azul. Mas há a pressão do poder. Quantos jornais fecharam as portas? Quantos jornalistas estão no desemprego? Não será isso uma forma de violência se não física pelo menos psicológica? Também temos a física do ministro que gosta de malhar… E que me diz acerca da tolerância política? Onde está ela neste país? Quem não está comigo está contra mim.

E sobre a impunidade? Tive pena que não falasse dela.
E que me diz à grandiosa e inesperada eleição de um candidato único a Secretário-Geral com

92,….% dos votos. Não será esse valor enquanto demonstração de veneração exacerbada também uma forma de fascismo?
Antes do 25 de Abril falava-se dos ganhos extraordinários e dos escândalos dos membros do regime. Além do Ballet Rose nunca ninguém conseguiu provar nada. Dizia-se que por causa da censura. Deu-se o 25.4 e abriram-se os arquivos. Onde estavam as grande fortunas e os pecados dos governantes? Acha que se existissem não se teria sabido? A única fortuna que ficou foi a dita pesada herança do ouro até então arrecadada e que rapidamente foi desbaratada. Isto é democracia ou fascismo?

Voltemos aos dias de hoje. Conte-me quantos escândalos por causa de dinheiro já houve só este ano. Quem estava metido na maior parte deles? Se tem a memória curta eu refresco-lha: actuais e antigos governantes, agora colocados como gestores milionários em empresas que de alguma maneira têm a ver com o governo. Chama a isto democracia?

Esta resposta já vai longa mas há uma coisa que gostava que me explicasse. É sobre esta frase
Onde os povos autocnes (por acaso escreveu esta palavra pelo dicionário do Magalhães? Deixe que eu corrijo – autóctones) dos agora países livres eram "escravizados" pelos seguidores dos srs. ditadores do governo de então.

1ª pergunta – se estavam escravizados, porque fugiram todos para Portugal, para o país dos seus “coronéis”?
2ª pergunta – Se agora os seus países estão livres, porque não voltam eles para lá?

Como vê não tenho razão para ter saudades do fascismo. Ele está aí na sua versão mais pura, actualizada e reciclada.
Aconselho-o sinceramente a rever os seus conhecimentos de História de Portugal e a repensar o seu pensamento político. Quanto ao partidário, já que estamos na sua democracia, escolha o que lhe garantir algum proveito para a sua vida. Bem lá no fundo é isso que está a dar.


Com os melhores cumprimentos de uma gaivota livre, democrata, antifascista e bem portuguesa