sábado, 31 de janeiro de 2009

UM DESAFIO DA GAIVOTA DO VENTO AO NOSSO GABION

As gaivotas.Vão e vêm. Entram
pela pupila.
Devagar também os barcos entram.
Por fim o mar.
Não tardará a fadiga da alma.
De tanto olhar, tanto
olhar.

Eugénio de Andrade

Etiquetas: ,

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

PARA NÓS, AS AVÓS DO CHOQUE TECNOLÓGICO...

Etiquetas:

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

PARA OS ALFACINHAS QUE VISITAM ESTAS PÁGINAS

BALADA DE LISBOA
Em cada esquina te vais
Em cada esquina te vejo
Esta é a cidade que tem
Teu nome escrito no cais
A cidade onde desenho
Teu rosto com sol e Tejo

Caravelas te levaram
Caravelas te perderam
Nas manhãs da tua ausência
Tão perto de mim tão longe
Tão fora de seres presente

Esta é a cidade onde estás
Como quem não volta mais
Tão dentro de mim tão que
Nunca ninguém por ninguém
Em cada dia regressas
Em cada dia te vais.

Em cada rua me foges
Em cada rua te vejo
Tão doente da viagem
Teu rosto de sol e Tejo
Esta é a cidade onde moras
Como quem está de passagem

Às vezes pergunto se
Às vezes pergunto quem
Esta é a cidade onde estás
Com quem nunca mais vem
Tão longe de mim tão perto
Ninguém assim por ninguém

Manuel Alegre

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

UM DIA DE CHUVA SUGERE UM SOFÁ E UMA MÚSICA ESPECIAL

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

PARA UM ANÓNIMO QUE ANDA A DESENQUIETAR AS GAIVOTAS

na asa do gavião
uma pétala de susto
amedronta a palavra......

e eu, qual mortal,
sopro no suspiro
que suspirou meu coração.


João Videira Santos

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Para aquecer o coração da Gaivota Mimi...

Definição

Quem esquece o amor, e o dissipa,

saberá que sentimento corrompe,
ou apenas se o coração se encontra
no vazio da memória?
O vento não percorre a tarde
com o seu canto alucinado,
que só os loucos pressentem, para que tu o ignores;
nem a sabedoria melancólica das árvores
te oferece uma sombra
para que lhe fujas com um riso ágil
de quem crê na superfície da vida.
Esses são alguns limites
que a natureza põe a quem resiste à convicção da noite.
O caminho está aberto,
porém, para quem se decida a reconhecê-los;
e os próprios passos encontram a direcção fácil
nos sulcos que o poema abriu na erva gasta da linguagem.
Então, entra nesse campo;
não receies o horizonte que a tempestade habita, à tarde,
nem o vulto inquieto cujos braços te chamam.
Apropria-te do calor seco dos vestíbulos.
Bebe o licor das conchas residuais do sexo.
Assim, os teus lábios imprimem nos meus
uma marca de sangue, manchando o verso.
Ambos cedemos à promiscuidade do poente,
ignorando as nuvens e os astros.

O amor é esse contacto sem espaço,
o quarto fechado das sensações,
a respiração que a terra ouve pelos ouvidos da treva.

Nuno Júdice

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

HOJE ESTAVA A APETECER-ME...

Um Poema de Amor

Não sei onde estás,
se falas ou se apenas olhas o horizonte,
que pode ser apenas
o de uma parede de quarto.
Mas sei que uma sombra se demora contigo,
quando me pergunto onde estás:
uma inquietação que atravessa
o espaço entre mim e ti,
e te rouba as certezas de hoje,
como a mim me dá este poema.

Nuno Júdice

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

NO MOMENTO EM QUE OBAMA CHEGA À CASA BRANCA... VAMOS RECORDAR LINCOLN



ALGUMAS FRASES DE LINCOLN (dirigidas aos nossos governantes. Será que as entendem?)

Podeis enganar toda a gente durante um certo tempo; podeis mesmo enganar algumas pessoas todo o tempo; mas não vos será possível enganar sempre toda a gente.

O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que tombaram antes de vencer.

Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes.


Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o carácter de um homem, dê-lhe poder.


Nunca devemos mudar de cavalo no meio do rio.

domingo, 18 de janeiro de 2009

ET DIEU ME FIT FEMME


Et Dieu me fit femme,
avec de longs cheveux ,
les yeux, le nez
et la bouche de femme,
avec des rondeurs et des plis
et de doux creux;
de l’intérieur il me creusa,
et fit de moi
l’atelier des êtres humains.

Il tissa délicatement mes nerfs,
équilibra avec soin
le nombre de mes hormones,
composa mon sang
et me l’injecta
afin qu’il irrigue
tout mon corps;
Ainsi naquirent les idées,
les rêves et l’instinct.
Il créa le tout
à grands coups de souffle
en sculptant avec amour,
les mille et une choses
qui me font femme tous les jours,
et pour lesquelles avec orgueil,
je me lève chaque matin
et bénis mon sexe.

Gioconda Belli
Poétesse nicaraguayenne

Etiquetas:

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

TIVE TANTA PENA DE NÃO PODER TER VISTO ESTA NEVE...




domingo, 11 de janeiro de 2009

LEMBRANDO UM POETA: JOÃO DE DEUS


Nascido em S. Bartolomeu de Messines em 1830, João de Deus Ramos faleceu em 11 de Janeiro de 1896, em Lisboa.

A VIDA É O DIA DE HOJE

A vida é o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa;
A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve
E como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai!
A vida é flor na corrente,
A vida é sopro suave,
A vida é estrela cadente,
Voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
Onda que o vento nos mares,
Uma após outra lançou,
A vida - pena caída
Da asa da ave ferida
De vale em vale impelida
A vida o vento levou!
João de Deus

sábado, 10 de janeiro de 2009

A NEVE - QUEM NÃO GOSTA DESTA BELEZA?

BALADA DA NEVE

Batem leve, levemente,

como quem chama por mim.

Será chuva? Será gente?

Gente não é, certamente

e a chuva não bate assim.


É talvez a ventania:

mas há pouco, há poucochinho,

nem uma agulha bulia

na quieta melancolia

dos pinheiros do caminho...


Quem bate, assim, levemente,

com tão estranha leveza,

que mal se ouve, mal se sente?

Não é chuva, nem é gente,

nem é vento com certeza.


Fui ver. A neve caía

do azul cinzento do céu,

branca e leve, branca e fria...

Há quanto tempo a não via!

E que saudades, Deus meu!


Olho-a através da vidraça.

Pôs tudo da cor do linho.

Passa gente e, quando passa,

os passos imprime e traça

na brancura do caminho...


Fico olhando esses sinais

da pobre gente que avança,

e noto, por entre os mais,

os traços miniaturais

duns pezitos de criança...


E descalcinhos, doridos...

a neve deixa inda vê-los,

primeiro, bem definidos,

depois, em sulcos compridos,

porque não podia erguê-los!...


Que quem já é pecador

sofra tormentos, enfim!

Mas as crianças, Senhor,

porque lhes dais tanta dor?!...

Porque padecem assim?!...


E uma infinita tristeza,

uma funda turvação

entra em mim, fica em mim presa.

Cai neve na Natureza

e cai no meu coração.


Augusto Gil

Foto de augusto.mcc

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

E ASSIM SE VAI FAZENDO A HISTÓRIA DESTE PAÍS


«Crescido, Zé Povinho correspondeu perfeitamente às esperanças que n'elle depositaram os solicitos poderes (...). Como desenvolvimento de cabeça elle está mais ou menos como se o tivessem desmamado hontem. De musculos, porém, de epiderme e de coiro, endureceu e calejou como se quer, e , cumprindo com brio a missão que lhe cabe, elle paga e súa satisfactoriamente. De resto, dorme, resa e dá os vivas que são precisos. Um dia virá talvez em que elle mude de figura e mude tambem de nome para, em vez de se chamar Zé Povinho, se chamar simplesmente Povo. Mas "quantos" impostos novos, novos empréstimos, novos tratados e novos discursos correrão na ampulheta "socrática" do tempo antes que chegue esse dia tempestuoso? "



João Ribaixo (Ramalho Ortigão) - texto adaptado

Etiquetas:

sábado, 3 de janeiro de 2009

ORAÇÃO PARA 2009

PRECE

Senhor, a noite veio e a alma é vil.

Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguêla ainda.

Dá o sopro, a aragem --ou desgraça ou ânsia
-- Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistaremos a Distância
--Do mar ou outra, mas que seja nossa!

Fernando Pessoa - Mensagem