sábado, 31 de maio de 2008

NOITE SOBRE A CIDADE



E, de repente,
O dia se fez noite,
O perto misturou-se com o longe,
E as formas esbateram-se
Deixando entrever
As luzes da cidade
Como personagens
De um cenário irreal.
Apenas a cortina branca refulgia na escuridão
Como asas brancas de uma gaivota
Perdida no tempo e no lugar.
Apaguei a luz
E esperei, em sono de paz,
Que o dia voltasse a nascer.

Gaivota sobre a cidade

quarta-feira, 28 de maio de 2008

DERRADEIRO POENTE


É pena, amor,
Mas chegaste tarde.
Vieste na ponta do último raio de sol
De um derradeiro poente.
Não o fizeste de propósito
Acho que foi apenas
Porque não sabias o caminho até mim.
Não peças perdão.
Acredito que demoraste
Porque a viagem foi longa no tempo
E me querias trazer um presente
Que julgavas o mais indicado
Para alguém que não conhecias,
Mas cuja existência intuías
E querias encontrar
Para te descobrires a ti próprio.
E que certa foi a escolha!
Para alguém que vivia
Na sombra dos desafectos
Nada como o que trouxeste:
A luz desse teu sorriso.
Mal me olhaste, eu brilhei
E entendi de repente
Que apesar de tantas trevas
A vida tem um sentido.
Pena ter acontecido
No último raio de sol
De um derradeiro poente

GAIVOTA MELANCÓLICA

DIVAGAR NUMA ROTA QUEIROSIANA

MADRUGADA SOBRE O DOURO NO VERÃO DO ANO PASSADO

Como alguns sabem, nós temos uma casinha sobre o Douro, por alturas de Baião. Procurámo-la pela rota das palavras de Eça (eu continuo queirosiana empedernida) e encontrámo-la por acaso sobre a estação onde o escritor desembarcou do comboio para receber a herança de sua mulher a Quinta de Vila Nova, hoje sede da Fundação Eça de Queirós. Ele chamou-lhe Tormes, mas o seu verdadeiro nome é Santa cruz do Douro. Ninguém pode ficar insensível à descrição que ele fez do local em que desembarcou – a estação ferroviária:
“ (…) esperámos com alvoroço a pequenina estação de Tormes (…). Ela apareceu enfim, clara e simples à beira do rio, entre rochas, com seus vistosos girassóis enchendo um jardinzinho breve, as duas altas figueiras assombrando o pátio, e por trás a serra coberta de velho e denso arvoredo”.
Actualmente a esta descrição só lhe faltam os girassóis. As figueiras lá estão, a casa é branca e a serra está na mesma, à excepção de umas raras construções. Um dia os homens que vieram muito depois resolveram aproveitar o rio para produzir electricidade. Construíram umas quantas barragens, o que equivale a umas quantas albufeiras. A água subiu e as rochas acima citadas desapareceram muito lá no fundo. E o rio viu diminuir os seus meandros porque ficou um lago e separou ainda mais os habitantes das duas margens. Aqui em Santa Cruz, no verão, ele atravessava-se a pé o que possibilitava às pessoas da margem norte ir à farmácia da margem sul, o que poupava 14 Kms, que é a distância a que fica a mais próxima, em Baião.
Paralelamente, isso trouxe outras vantagens: o rio tornou-se navegável. Toda a gente sabe que pode meter-se num barco no Porto e ir até à Régua ou Barca d’Alva ou, saindo da Régua ir até ao Porto. Aos sábados e domingos, de Abril a Outubro, o Douro parece uma auto-estrada tal é a quantidade de barcos de turismo e de recreio que o sobem e descem.
O que se passa relativamente à paisagem junto da estação, ainda há poucos anos era aplicável ao percurso que dali vai para a casa da Fundação. Nos últimos tempos a vontade extrema, para não dizer moda, que se pegou aos citadinos, fez aparecer uma razoável quantidade de construções que, graças a Deus, têm respeitado mais ou menos o ambiente rural. Por cima da minha casa, a cerca de 200m, levanta-se neste momento um complexo hoteleiro cujos donos, segundo ouvi na TV, aspiram a que seja um êxito enorme, talvez a partir do próximo ano. Os habitantes locais olham desconfiados para a construção e aproveitam para começar a pedir mais dinheiro pelos terrenos que, por plantar com a crise da agricultura, pensam vender aos prometidos visitantes estrangeiros. E imaginam, qual romanos no final do Império, que vão ser assaltados por uma horda de bárbaros que, encantados com o lugar, aqui se passarão a fixar. Eu estou sentada, à espera para ver. Quem tem dinheiro para pagar um hotel num local assim, onde nada lhes falta para terem tudo, certamente preferi-lo-á à obrigação de manter aqui uma casa com todas as obrigações de manutenção que ela exige. E por outro lado após as primeiras passeatas pelo sítio, os nossos turistas, bárbaros, visitantes ou o que lhe quiserem chamar, acabarão por pensar o mesmo que o nosso Eça escreveu à mulher em 1898:
“À excepção daqueles sítios onde como se disse, a serra se humaniza, todo o passeio se compõe de dois esforços, – o de uma descida em que há sempre o perigo de se ser despenhado, e uma subida, depois, em que se tem de parar, cada cinco minutos, a arquejar – ou vice-versa. Andar de gatas, agarrado às fragas, é frequente nestes passeio de prazer”.
Mas talvez as coisas não corram mal e seja eu que estou a ser pessimista porque aqui “ em breve os nossos males se esquecem ante a incomparável beleza daquela serra bendita!””

Gaivota no Douro

terça-feira, 27 de maio de 2008

É aqui que estou desterrada - no Casal do Lago

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Passión

SUL

A chuva bordou cortinas novas
Por fora da minha janela
Que se fiam ao sabor do movimento das gotas
E me metem pela casa dentro
Paisagens diversas a cada aguaceiro.
Sempre que olho
Há cores novas,
Movimentos variados.
Nunca são os mesmos
Como nos dias de sol.

Por vezes,
Uma enorme nuvem diáfana
Cobre como um manto de noiva
O alto da serra,
Aquele sítio onde o meu olhar costuma procurar
O sul.

Porque um dia perdi o norte
Eu não sei viver sem o sul.
Este evoca-me sempre o sol,
E traz-me energia e vida.
Não é como o equador
Apenas uma linha abstracta
Traçada por alguém desconhecido.

O meu sul é um retalho de calor
Escolhido por mim
E onde anseio construir,
Com o passar de cada estação
E o saber trazido por cada tempo,
Um novo local para outra forma de existir
Onde o ser que sou se desvaneça
Em momentos eternos de paixão.


Gaivota em terra em dia de dilúvio– Maio de 2008

sexta-feira, 23 de maio de 2008

TERNURA

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
Seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago adoçurados que aceitam melancolicamente.

E posso te dizer
que o grande afecto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.

Vinícius de Moraes

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Esta MENSAGEM é o meu adeus para uma semana de ausência. Até lá o meu abraço

LONGE PARA MIM

Longe para mim
É quando sinto as gaivotas
Voarem em direcção ao horizonte
Que eu nunca alcançarei.

Longe para mim
É ver o bulício das folhas
Que o vento afasta de mim
E que nunca mais verei.

Longe para mim
É pensar
Na imensidão do mar
Que nunca atravessarei.

Longe para mim
É ver uma rosa
No alto de um muro
E que por isso nunca cortarei.

Longe para mim
É pensar em ti
Como ave que emigra
Perdida no bando que parte
E que se volta… não sei…


EU
Maio 2008

terça-feira, 20 de maio de 2008

Missing you

SAUDADE

"Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos
saudades de todas as conversas jogadas fora,
as descobertas que fizemos,
dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que compartilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia,
das vésperas de finais de semana,

de finais de ano,
enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino,
ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez
continuemos a nos encontrar quem sabe...... nos e-mails trocados.
Podemos nos telefonar conversar algumas bobagens....
Aí os dias vão passar, meses...anos...

até este contacto tornar-se cada vez mais raro.
Vamos nos perder no tempo....

Um dia nossos filhos
verão aquelas fotografias e perguntarão?
Quem são aquelas pessoas?
Diremos...Que eram nossos amigos.

E...... isso vai doer tanto!
Foram meus amigos, foi com eles que vivi
os melhores anos de minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente......
Quando o nosso grupo estiver incompleto...

nos reuniremos para um ultimo adeus de um amigo.
E entre lágrima nos abraçaremos.
Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.

Por fim, cada um vai para o seu lado
para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado.
E nos perderemos no tempo.....
Por isso, fica aqui um pedido desta humilde amigo :

não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas
adversidades seja a causa de grandes tempestades....
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se
morressem todos os meus amigos!"

Vinicius de Morais

domingo, 18 de maio de 2008

Muito a Gaivota do Sul se terá lembrado desta canção em Porto Santo!!!

TOMEM NOTA DISTO

A nossa gaivota do sul que voou para Porto Santo, está mais que inspirada. A poesia que se segue é dela e chegou-nos dessa ilha durante a minha ausência em Roma. Aqui a deixo, roubada da página dos comentários.

GOSTO DE PASSEAR NA AREIA MOLHADA

Gosto de passear na areia molhada
Deixando que as ondas apaguem
As marcas dos meus passos…
Nesta praia já não há tantas gaivotas
Como antes.
Voaram de asas bem abertas
E foram fazer ninho nas Desertas…

Por vezes acontece, quando ando à beira-mar,
Ver uma delas, como eu solitária,
Acompanhar meus passos apressados
Com um voo rasante sobre as águas…
Quase não bate as asas
Antes de levantar
Para outras paragens.
Só que há dias em que a gaivota aparece
E outros, em que tal não acontece…

E eu fico olhando o firmamento
Na esperança de a ver chegar.
Para mim ela é a companheira
Das horas de sossego e de calma
Que vivo nesta praia…
Às vezes, também ela só,
Fica de pé à beira-mar
Dá passeios pela areia
E até sobe às dunas…
E eu penso que ela está ali
Só para me acompanhar e distrair.

Bela gaivota, que agora por mim passas
Onde te levarão as tuas longas asas?

Porto Santo, Maio de 2008
gaivota do sul

15 de Maio de 2008 18:18

quarta-feira, 14 de maio de 2008

VOLARE - lembram-se?

VIAJAR! PERDER PAÍSES

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

Com esta poesia vos digo adeus até segunda. Levada pelas asas do avião, não pelas minhas, vou sobrevoar a Roma dos meus sonhos. Portem-se bem e mandem recados que, se eu puder, vos responderei. Se não, fá-lo-ei no regresso. Até lá um abraço para as gaivotas e gaivotos do meu bando

terça-feira, 13 de maio de 2008

Ricorde del cuore

SOSSEGA, CORAÇÃO

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Strange in Paradise - Esta é de culto

PARAÍSO

Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.


David Mourão-Ferreira

domingo, 11 de maio de 2008

POR MORRER UMA ANDORINHA - Carlos do Carmo

VIMOS CHEGAR AS ANDORINHAS

Vimos chegar as andorinhas
conjugarem-se as estrelas
impacientarem-se os ventos

Agora
esperemos o verão do teu nascimento
tranquilos, preguiçosos


Tão inseparáveis as nossas fomes
Tão emaranhadas as nossas veias
Tão indestrutíveis os nossos sonhos

Espera-te um nome
breve como um beijo
e o reino ilimitado
dos meus braços

Virás
como a luz maior
no solstício de Junho.

Rosa Lobato de Faria

sábado, 10 de maio de 2008

UMA BELA CAMINHADA

Nenúfar

Escadaria de Villar de Allen

Bosque de Villar de Allen

Palácio de Bonjóia

Palácio do Freixo

Casa de Villar de Allen

Sob a orientação do Prof. Helder Pacheco e com um grupo de alunos dele, dei ontem um belo passeio para conhecer área oriental da cidade do Porto onde, no século XIX, alguns portuenses mais ilustres tinham as suas quintas de veraneio. Além de uns poucos palácios, quintas e algumas pequenas aldeias, pouco resta para ver. O progresso rodoviário e imobiliário comeu o resto. Do que vimos aqui vos deixo aquilo de que mais gostei. As fotos que aqui postei tiveram que ser retiradas por se encontrarem expostas como uma apresentação de slides (ver postagem abaixo). Mas para não se perder tudo aqui vou colocar algumas delas e m postagem normal

Quem Viu, viu

Por pessoa amiga fui avisada de que a publicação do slide.com,que aqui estava, facilitava a entrada noutros dos meus slides.com que são privados. Por isso tive que o excluir para proteger a minha privacidade e de alguns familiares. Obrigada pela vossa compreensão e outro a quem me avisou

quinta-feira, 8 de maio de 2008

La mia isola

ISOLABELLA

Cada um de nós tem uma ilha, nem que seja em ficcão onde guardamos os nossos afectos e segredos e é o nosso porto de abrigo, mesmo que seja virtual A gaivota do sul voou até à sua ilha real.Para ela aqui fica o poema

Quero levar-te àquela ilha

onde serás amado,

onde serás aceito

do jeito

que és.


Onde podes tirar a máscara

e deixar esplender

teu rosto.

Onde minha ternura

não se espantará

com teu grão de loucura;

onde minha paixão não diminuirá

com tua parcela de medos;

onde podes ser o que és,

naturalmente,

e mesmo assim

farei de ti

um rei.

LYA LUFT

quarta-feira, 7 de maio de 2008

POEMA DE AMOR - Juan Manuel Serrat

QUASE UM POEMA DE AMOR

Há muito tempo já que não escrevo um poema

De amor.

E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!

A nossa natureza

Lusitana

Tem essa humana

Graça

Feiticeira

De tornar de cristal

A mais sentimental

E baça

Bebedeira.

Mas ou seja que vou envelhecendo

E ninguém me deseje apaixonado,

Ou que a antiga paixão

Me mantenha calado

O coração

Num íntimo pudor,

--- Há muito tempo já que não escrevo um poema

De amor

Miguel Torga

domingo, 4 de maio de 2008

La Mamma - Charles Aznavour

DIA DA MÃE (sobretudo para quem já a viu partir)

Lembro-me de ser criança quando esta comemoração surgiu. Não tinha o carácter comercial que tem hoje e era celebrada a 8 de Dezembro (diga-se de passagem que para nós portugueses era uma data mais consequente porque era o dia da Padroeira de todos nós). Não recordo de, então, se dar qualquer presente às mães. Normalmente a nossa homenagem e o modo de dizermos quanto as amávamos era através de postais onde escrevíamos algumas frases ou pequenas poesias, umas copiadas, outras tentadas por nós.
A geração das minhas filhas já me fez chegar pequenos presentes, subsidiados pelo pai ou feitos por elas. Hoje, como as três somos mães, encontramo-nos numa refeição e celebramo-nos umas às outras. O dia também mudou, para o primeiro domingo de Maio. Os autores da mudança fizeram-no convencendo-nos que era para estarmos à escala europeia, o que não é verdade para todos os países que compõem a EU.
Infelizmente já não tenho a minha mãe a meu lado para lhe dar sequer um beijo. (estou a fui ao cemitério levar-lhe umas flores e trocar dois dedos de prosa para lhe dar conta, mais uma vez, das saudades que temos dela e falar-lhe dos netos que não teve oportunidade de conhecer. É uma espécie de balanço anual das nossas vidas depois da sua partida, que não da sua ausência porque ela está sempre connosco. Como diz o poeta: “Mãe na sua graça é eternidade”


Por que Deus permite
que as mães vão se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não se apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
– mistério profundo –
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 3 de maio de 2008

As time goes by

TEMPO VERSUS CONHECIMENTO

O tempo não acrescenta graus a um conhecimento
Apenas assiste,
Como espectador,
Ao seu desenrolar.
Se ele vai enfraquecendo,
Sopra-lhe e espalha o que resta
Nalgum poente.
Se ele cresce,
Dá-lhe a mão,
Guarda-o no coração
(a memória é o coração do tempo)
e torna-o permanente.


Mariamar