sábado, 18 de agosto de 2007

UM PORTO DE FADO


No fim-de-semana de 11 e 12 deste mês tive a oportunidade de assistir a dois concertos de fado inesquecíveis. Porque foram quatro os intervenientes, eu prefiro chamar-lhe momentos de fado. Organizados pela Casa da Música decorreram no seu exterior, no espaço que é conhecido por Praça. A ideia é óptima: o espaço é grande, vê-se e ouve-se bem de qualquer lado, só que se esqueceram que os verões tripeiros não são os algarvios. Organizar um espectáculo ao ar livre no Porto é sempre um risco. E a primeira noite foi propícia a umas quantas constipações se não pneumonias, porque além do nevoeiro corria uma brisa assim a parecer vento que enregelou muita gente. Eu por acaso fui preparada e lá me safei… Nessa primeira noite actuou em primeiro lugar um muito jovem e promissor guitarrista, Ricardo Parreira que tocou as músicas inseridas no seu novo álbum denominado “ Nas veias de uma guitarra” que dedica por inteiro ao mestre da viola Fernando Alvim, que o acompanhou no concerto. Começando pelas guitarradas de Coimbra, passou pela sonoridade de Carlos Paredes e não ficou nada mal, terminando com o fado de Lisboa. A segunda parte foi integralmente preenchida por uma fadista que já é uma realidade, mas que eu não conhecia- Ana Moura. Vi-a num flash televisivo a quando do concerto dos Rolling Stones, em que ela cantava uma canção, creio que o Temptations. Possuidora de um instrumento vocal poderosíssimo e de que usa e abusa, tem uma atitude em palco muito pouco comum e de uma sensualidade espantosa. Ganhou mais uma fã: eu.
A segunda noite, mais quente e sem vento, possibilitou um concerto em cheio. A iniciá-lo uma voz para mim desconhecida: Raquel Tavares. Com 22 anos, ganhou um Prémio Revelação Feminina (fundação Amália Rodrigues) em 2006. É uma fadista diferente de Ana Moura. Enquanto a primeira evoca grandes salas de concertos, esta puxa à intimidade das casas de fado onde o fado castiço rola de mesa em mesa. Gostei e tenho de descobrir onde ela canta em Lisboa.
O segundo momento dessa noite foi o MOMENTO. Julgo que para todos os presentes. Para mim foi-o de um modo especial. Sou fã de Carlos do Carmo desde o seu aparecimento. Temos em comum a idade e o casamento: casamos na mesma semana, com poucos dias de diferença. Ele apareceu numa altura em que se discutia muito que o fado iria acabar, que quando morresse a Amália, o Toni de Matos, a Hermínia Silva, a D.Teresa de Noronha, etc… não haveria quem os substituísse e o fado cairia por si. Erro total! Vivemos um momento de pujança do fado. E todos os seus cantores muito jovens, portanto com uma longa esperança de vida à sua frente. E a mocidade começa a perceber que o fado tem algo especial e vai ouvir fado. Eu também passei pela minha fase do não ao fado, mas converti-me e até tenho no meu leitor de MP3 alguns fados. Mas voltemos a Carlos do Carmo. Como fui cedo (naquele espaço não há lugares marcados) fiquei na primeira fila.Vira-o ao vivo há meia dúzia de anos, na primeira vez que ele veio ao Porto após as suas operações nos Estado Unidos. Estava magro, mais débil, mas a voz não me parecera alterada. Fez nesse concerto uma coisa que me arrepiou: cantou à capela o fado “Por morrer uma andorinha” no meio da plateia do Coliseu. Nesta noite brindou-nos com uma estreia: a maquete do seu novo disco em que irá cantar fados tradicionais de Armandinho, Joaquim Campos e Marceneiro com poesia nova de autores como M. do Rosário Pedreira, Fernando Pinto do Amaral, Nuno Júdice, José Manuel Mendes, Júlio Pomar e Luís Represas. Foi um êxito cada uma delas. Para não nos cansar entrecortou -as com alguns dos seus fados mais conhecidos que toda a plateia acompanhou. Subiu ao palco duas vezes no final e deixou-nos embevecidos. Parabéns à Casa da Música. E podem repetir.

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