domingo, 1 de julho de 2007

HERÓIS OU ÍDOLOS

O conceito de herói, que herdámos da mitologia grega, aquele ser especial, impoluto, capaz de grandes façanhas, tem mudado muito. Digamos que tem vindo a alterar-se com os tempos e os homens. Cada sociedade teve os seus heróis. Uns permaneceram. Outros perderam-se, esgotando-se a sua memória com o passar dos anos. Cada um de nós teve ou tem ainda heróis particulares. E tal como acontece com os outros eles desaparecem ou acompanham-nos por toda a vida. Eu não fujo à regra. Também tive e tenho os meus heróis. Há dias, em conversa com um amigo (não poderia ser com uma amiga porquanto eu era dos poucos espécimes do meu sexo que liam aquela revista) recordámos com saudade o extinto “Cavaleiro Andante”. Para os que não sabem ou nunca o leram na sua criancice (se têm mais de 40/50 anos) o “Cavaleiro Andante” juntamente com o “ Mundo de Aventuras” foram duas das primeiras publicações de banda desenhada editadas em Portugal e que todas as semanas nos deliciavam com as suas narrativas em episódios, que nos obrigavam a esperar meses para conhecer o desfecho de cada uma delas. A minha preferência ia essencialmente para a primeira. Assim à distância recordo que as suas histórias não eram tão agressivas como as da segunda. E muitas delas eram de temática histórica, coisa de que já então eu gostava. A aventura que me impressionou mais fortemente foi a intitulada “Ala dos namorados” e que contava, em quadradinhos, a história da ala esquerda do exército português na batalha de Aljubarrota que era composta por jovens que, em comum, tinham a nacionalidade e viviam uma paixão. Eram seus chefes Mem Rodrigues e Rui Mendes de Vasconcelos. Já não recordo os pormenores da narrativa, mas os seus nomes fixei-os e coloquei-os no meu patamar de heróis não só pela coragem, mas também, e talvez sobretudo, pelo estado passional que viviam. Anos mais tarde, já mãe de filhas adolescentes, encontrei-me novamente com eles num trabalho que fiz sobre a crise de 1383-85, durante o meu curso de História. E aí perdi-os, ou melhor dizendo, desci-os do lugar em que os tinha posto porque descobri que eles tinham existido na realidade e como tal perderam aquela auréola de ficção que lhes dava brilho. E compreendi que os heróis são heróis enquanto seres tão perfeitos que só podem mesmo existir na fantasia. Ao contrário do que acontecia na antiga Grécia, o que hoje designamos por heróis são personagens reais cuja vida gostaríamos que fosse a nossa, de quem copiamos atitudes ou formas de vestir ou de pensar. Só que estes não são mais do que ídolos, seres que passamos a adorar porque se impõem por algo em especial, mas que, finda essa actividade ou alterado o sistema de vida, rolam direitinhos para a nossa lixeira pessoal, porque logo outros se impõem. A principal fonte de criação destes seres é a Media. Elevam-nos aos píncaros da celebridade, proclamam a originalidade do modelo e de repente, por algo que aconteceu ou não aconteceu ou se inventou que tivesse existido ou, sobretudo, que ocorreu em sentido oposto aos desígnios dos fazedores de ídolos, puxam-lhe o tapete e eles caiem fazendo-se pó. Vale tudo desde que se publique e dê dinheiro. Hoje não pode haver heróis porque todos temos pés de barro, não temos qualidades para sermos eternos e, à primeira, tropeçamos. E lá estará alguém a relatar o acontecido. O futebol está carregado de exemplos destes. A política também ai está representada. Nenhum estrato da sociedade, sobretudo a mais visível pela posição ou dinheiro, está livre disso. Esta semana um livro, discutível, vem por em causa a verdade da vida de Diana de Gales. Não me vou referir a ele. A altura para o seu lançamento foi estudada e bem preparada. O seu objectivo é denegrir alguém que foi um ídolo mundial no momento em que os seus filhos se preparam para festejar o que seria o seu 46º aniversário e os 10 anos da sua morte. É caso para dizer: aos fazedores de ídolos nem os fantasmas escapam…

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