quinta-feira, 29 de março de 2007

PARTICULARIDADES DA NOSSA LÍNGUA


" Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em que se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso a voz do mar foi a da nossa inquietação"

Virgílio Ferreira em Língua Portuguesa um Oceano de Cultura
(revista do Instituto Camões para a Expo 98)



De origem milenária, nascido da língua de um povo de conquistadores, o português teria de tornar-se por isso mesmo também um idioma universal. As inúmeras influências que ao longo dos séculos sofreu, concedeu-lhe características especiais e enriqueceu-o, tornando-o um dos falares mais expressivos e de vocabulário mais vasto do mundo. Como exemplo temos o texto que se segue, proveniente do Brasil, que me foi gentilmente enviado por um amigo e que não resisto a publicar para que os meus leitores avaliem das potencialidades desta nossa língua, por vezes tão mal usada.


PPPPPPPPPPPPPP.........APENAS A LÍNGUA PORTUGUESA NOS PERMITE ESCREVER ISTO...


Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor português, pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar panfletos. Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir. Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas. Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris. Partindo para Paris, passou pelos Pirinéus, pois pretendia pintá-los. Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas. Pisando Paris, permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se. Profundas privações passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal. Povo previdente! Pensava Pedro Paulo... Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses. Paris! Paris! Proferiu Pedro Paulo. Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir. Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, Papai Procópio partira para Província. Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para Papai Procópio para prosseguir praticando pinturas. Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, Papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu: Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia. Porque pintas porcarias? Papai, proferiu Pedro Paulo, pinto porque permitiste, porém, preferindo, poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal. Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro! Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando. Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus. Partindo pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro. Pisando por pedras pontudas, Papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro profissional perfeito. Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo. Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pegar pintores práticos. Particularmente Pedro Paulo preferia pintar prédios. Pereceu pintando prédios para Péricles, pois precipitou-se pelas paredes pintadas. Pobre Pedro Paulo, pereceu pintando..." Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo pararpara pensar...Para parar preciso pensar. Pensei. Portanto, parei. PRONTO...

E você ainda se acha o máximo quando consegue dizer: "O rato roeu a rolha da garrafa de rum do Rei da Russia"?
E ESTA?

quarta-feira, 28 de março de 2007

AINDA "OS GRANDES PORTUGUESES"

Felizmente não estou sozinha nas opiniões que aqui registei há dois dias. As conversas de rua e de amigos assim me têm demonstrado isso. Um comentário ao meu texto, que me foi enviado por GP, é o exemplo da posição de uma vasta faixa de portugueses que estão na base da escolha que foi feita. Mas, para encerrar este assunto, gostaria de realçar dois momentos do pós votação em que os defensores e pessoas presentes no estúdio foram chamados a dar a sua opinião sobre o resultado. Dentre todos vou referir-me aos depoimentos de dois homens com posições políticas opostas: Prof. Dr. Rosado Fernandes e Fernando Dacosta. O primeiro, homem de centro-direita, teve uma posição clara de simples constatação: isto foi assim porque o povo está descontente com o que tem e o que lhe estão a fazer. O segundo, da ala da esquerda, ousou de cara levantada e numa confissão pública e desassombrada assumir os falhanços dos sonhos da Revolução que pôs fim ao Estado Novo. À distância de mais de 30 anos creio que poderemos dizer que o 25 de Abril, como todos os sonhos, foi uma utopia. E nenhum governo se encontra com o país porque a utopia não foi ainda desfeita. É aqui mesmo que reside o perigo do aparecimento dos mitos que referi no texto anterior. Salazar arrisca-se a ser um deles. Mais um na história deste país com mais de 800 anos.

segunda-feira, 26 de março de 2007

OS GRANDES PORTUGUESES

Desvendou-se o mistério que nos vinha apoquentando nos últimos meses. Já podemos dormir descansados. Foi escolhido o grande português, o maior de todos os tempos, segundo os objectivos da RTP. Feito isto, acabaram-se as apostas de café ou familiares, os debates televisivos, os artigos na imprensa à volta dessa figura que passaria a ser uma espécie de herói nacional. Aliás como se pode comprovar, de nada adiantaram. Num concurso em que se punham em comparação figuras actuais e vivas, dos mais variados quadrantes e, na sua quase totalidade, sem valor intemporal, com outras que vinham do início da portugalidade e de cuja actuação se tem uma perspectiva temporal vasta, tudo seria de esperar. Foi uma espécie de sopa de pedra de que só restaram mesmo os calhaus. A escolha, porque não foi uma eleição, de Salazar e Cunhal, é o retrato fiel da sociedade que temos: sem sentido histórico e de memória curta. Ah, e que pelos vistos gosta de chicote. Só assim se explica a escolha de dois ditadores, se bem que de facções opostas. Politicamente o que se passou revela a clivagem da sociedade portuguesa, dividida entre a esquerda e a direita desde que entrámos na chamada era democrática. Mas enquanto Salazar foi uma realidade, com uma actuação governativa completa de princípio, meio e fim (concordemos ou não com ela) reconhecida internacionalmente, Cunhal não passou de uma intenção: nunca governou a não ser o seu próprio partido. A maioria do próprio povo português o impediu de subir ao poder porque adivinhava nele a chegada de uma forma de governar mais ditatorial do que a de Salazar e de que a célebre “Cortina de Ferro” era a imagem. Salazar foi um grande português. Mas não o MAIOR. Teve uma actuação nacional e o que se pedia era uma dimensão universal.
O que revela pois esta opção? Que os portugueses estão em crise de valores económico-sociais, mas também descrentes na política deste país. Em todos os momentos semelhantes, ao longo da nossa história, têm surgido fenómenos de messianismo, ou seja, da criação de figuras que desejamos nos venham salvar. Continuamos à espera de um qualquer D. Sebastião que venha arrancar-nos do fosso em que estamos. Esse redentor do séc. XXI provavelmente já não virá numa manhã de nevoeiro, mas de avião. E se demorar um pouco arrisca-se a aterrar na Ota. A escolha destes dois nomes é prova do que acabo de afirmar. Um é um mito da direita. O outro da esquerda. Na divulgação de ambos e no apelo ao voto foram utilizadas manobras “subterrâneas” e silenciosas, como que temendo represálias de uma qualquer inquisição: sms que circularam entre amigos e conhecidos, envelopes abertos que, em vez de endereço tinham, escrita a lápis a frase: “lê, vota e passa a outro” e que dentro tinham fotocópias de propaganda de uma ou outra figura. Foram acções que desvirtuaram o jogo. Só faltou mesmo aparecer novamente um Bandarra com as suas trovas

Faço Trovas muito inteiras
Versos mui bem medidos,
Que hão de vir a ser cumpridos
Lá nas eras derradeiras.

domingo, 25 de março de 2007

APOSTA


A sorte
Tem movimentos de mar
quando sobe até à praia
para depois recuar.

A vida
corre ao compasso da sorte,
E se a queremos agarrar
Ainda mais do que querer
Precisamos apostar.

Só que a sorte,
No seu jeito de maré
A brincar no areal,
Joga com as nossas apostas
E, por vezes, troca as voltas:

Traz alegria ao perdermos
E tristeza se ganhamos
.
Foto e texto de IL

quarta-feira, 21 de março de 2007

HOJE É SÓ POESIA


Do fundo do fim do mundo
Vieram me perguntar
Qual era o anseio fundo
Que me fazia chorar.
E eu disse: É esse que os poetas
Têm tentado dizer
Em obras sempre incompletas
Em que puseram seu ser.


FERNANDO PESSOA

terça-feira, 20 de março de 2007

21 / MARÇO-DIA INTERNACIONAL DA POESIA




Da música caíram letras

Altas
Redondas
Deitadas
Curvas
Pontiagudas
Ligeiras
Esvoaçantes
Rodopiaram
E fugiram pelo chão

Apanhei-as
Juntei-as
Baralhei-as
Atirei-as ao ar
Guardei-as no meu colo

E nasceram palavras
Soltas
Livres
Sem elos
Sem sentido


Envolvi-as
Com luz
Som
Acção
Amor
Desespero
Paixão
Vontade
Gestos de vida

Misturei-lhes
Movimento
Ritmo
Cheiro de flores
Cantar dos pássaros
Murmúrio do mar

Acabei-as com um bocadinho de mim
E nasceu poesia


Texto e foto - IL

segunda-feira, 19 de março de 2007

DIA DO PAI


Na poesia a seguir substituam POEMAS por FILHOS e todos os pais entenderão porquê



OS POEMAS


Os poemas são pássaros

que chegam não se sabe de onde

e pousam no livro que lês.


Quando fechas o livro,

eles alçam voo como de um alçapão.


Eles não têm pouso nem porto;

alimentam-se um instante em cada par de mãos

e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,

no maravilhado espanto de saberes

que o alimento deles já estava em ti...

MÁRIO QUINTANA

sábado, 17 de março de 2007


Pátria


Soube da definição na minha infância.

Mas o tempo apagou

As linhas que no mapa da memória

A mestra palmatória

Desenhou.


Hoje

Sei apenas gostar

Duma nesga de terra

Debruada de mar

Miguel Torga

sexta-feira, 16 de março de 2007


Amanheceu o sol

Despiu-se das nuvens
e estendeu-se sobre nós.
As gaivotas famintas voltaram à praia
e os pássaros pousaram nas arvores.

Amanheceu o sol
e as crianças regressaram aos jardins,
os velhos às esquinas
e as vizinhas às janelas.

Amanheceu o sol
e a rua encheu-se
da sombra das casas,
o mar voltou a ser verde
e os aviões desenharam riscos brancos
no céu azul.

Amanheceu o sol
e a vida despertou
sobre as folhas caídas nos canteiros
onde espreitam os primeiros botões.

Amanheceu o sol.
Espreguicei-me
no primeiro raio que me viu
e renasci.

IL


(foto de Spaces - Lígia Brito)

segunda-feira, 12 de março de 2007


Segue o teu destino

Rega tuas plantas

Ama as tuas rosas

O resto é sombra

De arvores alheias


A realidade

Sei que é mais ou menos

Do que nós queremos

Só nós somos sempre

Iguais a nós próprios


Suave é viver só.

Grande e nobre é sempre

Viver simplesmente.

Deixa a dor nas aras

Como ex-voto aos deuses.


Vê de longe a vida.

Nunca a interrogues.

A resposta está além dos deuses.


Mas serenamente

Imita o Olimpo

No teu coração.

Os deuses são deuses

Porque não se pensam.


RICARDO REIS

sexta-feira, 2 de março de 2007

Aquecimento global


É a altura de nos preocuparmos com ele...
E depois do Inverno suave que tivemos e perante as previsões do verão de calor ... há que pensar no vestuário

quinta-feira, 1 de março de 2007

Ser GRANDE

GRANDE é quem pelo seu valor está para além do espaço e do tempo e até da vontade dos homens. GRANDE é ser universal no conceito mais amplo do termo. Magistral e convictamente, o Dr. Paulo Portas conseguiu demonstrar O GRANDE PORTUGUÊS que foi D. João II . Primeiro verdadeiro homem de estado, monarca, embaixador, estratega a nível universal sem por isso abandonar os negócios internos. Criador da modernidade portuguesa ele foi o ainda verdadeiro pilar da globalização. A partir de então o país viveu sob sucessivos governos que o trataram como quem deixa cair aquilo que não interessa ou não se sabe de quem é. Entramos na filosofia dos Bandarras, somos todos Velhos do Restelo e ainda acreditamos em manhãs nevoeiro. E assim, de mãos vazias chegamos ao século XXI.

Para D. João II, uma PRECE nas palavras de Pessoa:

Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.

Dá o sopro, a aragem – ou desgraça ou ânsia
– Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistaremos a Distância
– Do mar ou outra, mas que seja nossa!

in Mensagem