domingo, 25 de fevereiro de 2007

Os grandes Portugueses: Infante D. Henrique

Desde Outubro que a RPT 1 se tem empenhado numa espécie de concurso denominado “Os grandes portugueses” e que pretende escolher, de entre uma longa lista posta à votação ou sugerida, aqueles que nós pensamos serem os maiores homens/ mulheres que povoaram a nossa história. Como a maior parte dos nossos programas televisivos, também este foi importado. Se tiverem a curiosidade de consultarem o site da RTP poderão ver a lista dos 10 maiores nalguns países, dentro e fora da Europa. E curiosamente ali há mulheres entre os 10 primeiros. Mas isso não vem ao caso. Eu votei na primeira fase, preparo-me para votar na actual e na medida do possível tenho acompanhado o andamento do processo. Agora, que foram estabelecidos os 10+, conjunto de onde vai sair o maior português de todos os tempos passei a estar mais atenta. E após uma análise cuidada da classificação dos 90 candidatos, confesso que fiquei admirada com o relativo equilíbrio dos 10 do pelotão da frente. Das duas uma, ou ali andou a mão de alguém a arrumá-los (o que julgo não terá acontecido dado que como concurso público deve ter sido arbitrado pela estação televisiva, por alguma instituição, nem que ela seja o Governo Civil, alguma Provedoria ou uma qualquer Academia, de Letras ou Ciências) ou a maioria dos votantes foi gente com alguma formação cultural e senso selectivo ou de vergonha. Na lista dos 80, que não chegaram à meta, encontrei coisas verdadeiramente pitorescas, penso que por falta de uma correcta interpretação do que se pretendia. O maior português de sempre terá de ser forçosamente um indivíduo cuja personalidade e actividade marcou definitivamente o país. E um país de mais de 800 anos. Isto logo à partida excluía os viventes, por melhores que eles tenham sido até à data, porque não sabemos o que no futuro vão ser ou fazer pela nossa pátria. E dos que já partiram não deveriam ser referidos aqueles cuja actividade, por maior que ela tenha sido, se tivesse limitado aos quatro lados deste rectângulo florido onde vivemos. Tinham de ser portugueses universais (não esquecendo as alterações que o conceito de universalidade tem sofrido com o tempo e com os homens, alguns dos quais nossos compatriotas). Mas cada qual entendeu a seu modo e isso teve como resultado algumas escolhas e posicionamentos interessantes. Entre todos e a título de exemplo, porque me “encantaram”, encontrei, por exemplo, em 79º lugar um galã dos “Morangos com açúcar” (brilhante no género, certamente ou com um grande clube de fãs) à frente de um tal Gil Vicente, de uma certa Vieira da Silva e de um hepático Miguel Torga. Um pouco mais acima, um loiro Hermann José abria alas a D. Maria II, a Fadista Mariza seguia o sedutor D. Carlos I e Pedro Álvares Cabral abria o caminho para o Brasil a José Sócrates. José Mourinho, que além de bom treinador tenho como um homem culto, antecedia o místico Agostinho da Silva e o genial Eça de Queirós. Não sei se o Dr. Mário Soares, ateu, ficou muito satisfeito por estar ao lado de S. António. Agora quem deve ter exultado é o Snr. Jorge Nuno Pinto de Costa, acolitado pelo Dr. Sá Carneiro (portista como ele) e pelo seu homónimo D. Nuno Álvares Pereira. Como escolher numa lista assim? Grande é quem pelo seu valor está para além do espaço e do tempo e até da vontade dos homens. GRANDE é ser universal no conceito mais amplo do termo. Há semanas chegou o momento tão esperado dos defensores do 10 + apresentarem as suas razões para que votemos no seu tutelado. Porque mais distantes no tempo da publicação deste texto, vou referir-me hoje ao último destes programas (quem não teve a oportunidade de as assistir em directo poderá fazê-lo ainda no site da RTP). A Gonçalo Cadilhe, homem da beira-mar, coube o dever de propagandear a figura do Infante D. Henrique. Viajante incansável por um mundo que nos transmite através das suas narrativas, que assume que escreve para poder comer, se não conseguiu votos para o seu patrono a si próprio o deve. O que disse a respeito de Henrique de Aviz não trouxe nenhuma novidade ao que sobre ele vinha escrito nos manuais de História de Portugal do Estado Novo. Apenas coloriu o contexto com a sua experiência da nova retórica jornalística (onde vale tudo para se erguerem ou fazerem rolar cabeças) e os poderosos meios de multimédia que a RTP e os contribuintes portugueses puseram ao seu dispor. Os momentos mais altos da sua defesa foram todos aqueles em que, utilizando as suas habilidades surfísticas, se conseguiu manter em pé na prancha sobre as ondas. Aí, maravilhada, e pensando em tudo quanto sei sobre o Infante, descobri que afinal ele mais do que navegador foi surfista. Em terra firme ou no mar (?), ao longo dos séculos, foi sempre representado e abordado à superfície. Os cronistas da época, dele, que também escreviam para comer, nunca falaram dos seus mergulhos ou dos falhanços. Por isso a memória dos homens se esqueceu de quem lhe deu as aulas, lhe pagou os estudos e traçou os projectos. Era a si, Gonçalo, como defensor que competia tê-lo feito. Nos tribunais há sempre necessidade de provas mais claras. O Henrique que nos mostrou já o conhecíamos de “ginjeira “.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Prazeres de tarde de chuva (como hoje)

Um sofá
longo, com espaço para dois.
Um livro de amor
que folheio sonolenta
embalada por Chopin.
O crepitar do fogo na lareira
que me aquece a alma.
Um copo de vinho tinto,
da Rioja ou do Redondo,
tanto faz,
depende da ocasião
ou talvez da companhia.
Um afago ou um convite
e pode o mundo acabar...


IL

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Para um dia que se espera seja de paz e compreensão

É só pensar em você
Que muda o dia
Minha alegria dá prá ver
Não dá prá esconder
Nem quero pensar
Se é certo querer
O que vou lhe dizer
Um beijo seu e eu vou só
Pensar em você

Se a chuva cai
E o sol não sai
Penso em você
Vontade de viver mais
E em paz com o mundo
E comigo
E consigo

Chico César

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Os alunos e os pais que temos


Há pouco, em conversa com uma antiga colega de profissão, ouvi, horrorizada, a descrição da relação de uma boa parte dos actuais alunos com os professores. Lembrei-me , então de um artigo que foi publicado por mim, em Setembro de 2006, no "Matosinhos Hoje". Pela sua actualidade, passo a trancrevê-lo.

Comecei a minha vida profissional há exactamente 38 anos. Dei os primeiros passos como professora no extinto Externato da Boa-Nova, ao fundo de Conde Alto Mearim. Ali começara também a minha vida de estudante muitos anos antes. Estava pois já habituada à disciplina da casa, se bem como aluna. E descobri que também havia uma disciplina como professora. Foram 4 anos que me valeram muito mais do que o estágio que fiz posteriormente. Tive que me desenrascar sozinha para leccionar 2 disciplinas (Português e História) a turmas dos antigos 1º ao 5º anos (actuais 2º e 3º ciclo). Isso significava que eu dava 10 matérias diferentes. Aprendi muito com essas minhas alunas de quem guardo gratas lembranças. Em casa de freiras indisciplina era um pecado mortal. Claro que havia alunas indisciplinadas (eu tinha sido uma delas no meu tempo de aluna). Mas tudo se resolvia com um raspanete e um castigo que nunca traumatizou ninguém (à excepção de algumas palmatoadas). Dali a minha vida profissional mudou-se para o oficial e andei por vários lados até estacionar definitivamente em Leça da Palmeira, onde estive 24 anos. Passaram-me pelas mãos centenas de alunos (quando estive na Biblioteca creio que era a escola inteira). No meio de toda essa massa tive de tudo: dos mais correctos aos indisciplinados, dos bem aos mal-educados. Mas não recordo ter tido ocasiões problemáticas com eles. Apeteceu-me, por vezes, dar um tabefe, mas limitei-me à repreensão. Na verdade tive mais problemas com os pais do que com os filhos. Frequentemente fui desautorizada pelos encarregados de educação, que vinham falar comigo, na frente dos seus educandos. Uma vez, juntamente com uma colega (lembras-te, Ermelinda?) ia sendo agredida por uma mãe que fora reclamar contra o envio de uma assistente social e de um polícia a sua casa porque a filha não aparecia na escola e ela nunca respondera aos chamados da directora de turma. Como esta não estava, ela foi recebida pela minha colega que era do Conselho Executivo. Perante o circo que aquela mãe armou armei-me em pacificadora e fui tentar por água na fervura. Recuso-me a registar aqui o que ouvimos e a forma como fomos tratadas, isto enquanto a filha, a causadora do sucesso, numa atitude para a qual ainda não consegui explicação, tentava acalmar a mãe. Teria medo que a mãe se excedesse e nos agredisse? Provavelmente porque a cena só acabou com a chamada da polícia.
Tenho-me lembrado muito deste episódio desde que vi parte de um documentário sobre a violência praticada contra os professores nas nossas escolas. Movimento que sabíamos existir lá fora, mas que nos últimos anos tem crescido entre nós. Voltando à história que vos contei, apesar de ser culpada, quem falhou ali não foi a aluna. Foi a mãe. Primeiro porque nunca se preocupara com o que se passava com a filha e depois ao insultar professores pelo grave pecado de terem cumprido o que estava determinado para casos semelhantes, ou seja, desautorizou-nos perante a aluna. Julgo que é nestas atitudes que está baseada uma boa parte desta violência. Vendo os pais tomarem posições destas porque não fazerem eles os mesmo? Nós não temos alunos mal-educados ou indisciplinados. Temos sim alunos deseducados e não disciplinados por encarregados de educação, na sua grande maioria os próprios pais, que utilizam na vida familiar e profissional formas de comportamento agressivas, vocabulário inadequado e são incapazes de estabelecer regras aos filhos porque eles próprios não as cumprem. Atenção que estou a referir-me aos casos problemáticos que têm surgido e não a generalizar. Felizmente ainda há pais normais ou excepcionais. Aliás se assim não fosse estaríamos numa selva.
Se eu fosse Ministra da Educação, antes de me preocupar com a avaliação dos pais sobre os professores (que teria alguma lógica se…) debruçava-me sobre o comportamento, formação e educação cívica dos encarregados de educação. Com pais iguais àquela mãe como poderão ser os filhos? Se não os educam em casa e julgam protegê-los desautorizando os professores e desvirtuando as regras das Escolas, que podemos esperar destes jovens?
Definitivamente, não são os filhos que são “rascas”. São mesmo alguns pais.

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terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Regresso a casa

É a imagem que mais me emociona porque é sempre o meu voltar a casa. Não foi feita por mim mas deve-se a alguém que ama o Porto tanto como eu

PORTO SENTIDO - o verdadeiro hino

Quem vem e atravessa o rio
junto à serra do Pilar
vê um velho casario
que se estende ate ao mar .

Quem te vê ao vir da ponte
és cascata, são-joanina
dirigida sobre um monte
no meio da neblina.
Por ruelas e calçadas

da Ribeira até à Foz
por pedras sujas e gastas
e lampiões tristes e sós.
E esse teu ar grave e sério

dum rosto de cantaria
que nos oculta o mistério
dessa luz bela e sombria.
Ver-te assim abandonada

nesse timbre pardacento
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento
E é sempre a primeira vez

em cada regresso a casa
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa.

Carlos Tê

IMAGENS DA MINHA VIDA


Se perguntarmos a várias pessoas porque gostam de viajar, a resposta que mais se obtém é a de que querem ir VER, conhecer outras coisas. Muitas falam das culturas novas, outras de museus, de arquitectura, de história das terras para onde destinam as suas rotas. Mas todos ressaltam o factor paisagístico como objectivo de grande importância. E realmente é bom ver o que há nos outros lados para podermos avaliar o que temos. Por isso toda a gente tem o cuidado de levar uma máquina fotográfica ou uma câmara de vídeo para registar as imagens ou momentos que maior impacto lhes causa.
Não tenho viajado tanto quanto o que gostaria. Mas tenho dado umas voltinhas. E ao longo deste tempo também eu tenho enchido gavetas com fotografias, slides, cassettes video e, desde que comprei a câmara digital, a memória do computador. No primeiro momento em que visiono esse material, apresso-me a mostrá-lo à família e amigos para poder com eles partilhar as imagens que me encheram a retina. Depois guardo-o e lá de vez em quando faço-o sair do esquecimento a que fica votado e revejo-o talvez na tentativa de tornar mais próximo o momento então vivido. Se me dá a fúria das arrumações, lá vai algum parar ao lixo. E dou comigo a pensar que se deixara de lhe achar interesse talvez fosse por que ele não tinha tido assim tanta importância. Creio que isto se passa com uma boa parte da gente. Contudo há imagens que presenciamos ao longo da vida e que exercem sobre nós tal força que, mesmo que não estejam registadas em qualquer forma de suporte, nos deixaram marcas indestrutíveis. Acho que todos nós guardamos imagens dessas na nossa memória. Das muitas que vivi gostaria de vos falar de algumas em particular. Não o vou fazer por ordem de importância, mas à medida que me vão surgindo: A primeira é bem portuguesa: já alguma vez se encontraram sozinhos, sem mais ninguém, na imensidão do recinto do santuário de Fátima? Mais do que o belo me impressionou o tamanho que me reduziu literalmente a nada. Outra emocionou-me pela beleza plástica: Nova Iorque de noite, vista de dentro do avião: é um extenso manto de veludo preto salpicado por pedras brilhantes de mil cores. Inesquecível! A seguir duas imagens brasileiras: o anoitecer progressivo sobre a cidade do Rio de Janeiro, visto do alto do Pão de Açúcar e o pôr-do-sol na foz do rio Itanhaem, a sul de Porto de Galinhas, apreciado de dentro de um barco que navegava no meio do mangue. E as Lagoas das Sete Cidades e das Furnas, em S. Miguel? E o nosso Gerês e o Alto-Douro? … E nunca mais sairia daqui se as conseguisse enumerar todas. Há contudo uma que me emociona por demais (como diriam os nossos irmãos brasileiros). E não é preciso fotografar para a termos em nós pois emociona-nos diariamente. Está bem próxima e pode ser partilhada por todos. Chegamos lá sem pagar e ainda fazemos exercício, se quisermos. Muda com o tempo e o seu estado de disposição. Refiro-me ao espectáculo que é o mar desta nossa praia de Matosinhos. Esta semana tem sido fabuloso. Se o sol continuar, desçam ao passeio Atlântico, sentem-se no muro ou na areia (porque não num dos bares?) e deliciem-se com o que têm à vossa frente. Se forem de manhã poderão ver a elegância das traineiras e motoras a entrarem na doca com um véu brilhante de gaivotas sobre elas e sentirão uma sensação de paz e leveza infinda. Se preferirem o fim da tarde, quando o azul fica vermelho e o sol se esconde de nós não me acredito que não sintam um arrepio a percorrer-vos o corpo. Às vezes é demasiado belo para parecer verdade. E ainda por cima é nosso. Esta é uma imagem que mesmo sendo frequente não deixa por isso de ser uma das imagens da minha vida.

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Referendo do dia 11

Não tiro uma palavra ao que disse. Espero que a votação seja massiva para dizermos o que realmente queremos. O comentário do Poliscópio, que se segue, juntamente com o resultado da votaçaõ em que deveria estar a ganhar o SIM (ver link mais abaixo) provam à saciedade que a indecisão é muita, a falta de informação abundante e que o que conta é seguir os partidos porque o que se está a passar é um assunto político-partidário quando deveria ser de educação e saúde pública. Caro Poliscópio, no teu comentário eu apenas substituiria o Nocivo por Incómodo.


poliscopio.blogspot.com disse...
Já agora, uma questão mais para a dúvida. Enquanto o cordão umbilical liga o feto à mulher, este é parte do corpo da mulher ou é um ser diferente?Esta não é bem a questão da vida. É óbvio que o feto é Vida logo a partir do momento da concepção. Como, em potência, através das células masculina e feminina que lhe dão origem, o eram já. A Vida é um processo ininterrupto que surgiu na primeira célula e só se extinguirá quando morrer a última das células.A questão que coloco tem importância para saber se alguém pode dispor dessa parte da Vida e extirpá-la - tal e qual se extirpa um tumor, que também é Vida, embora nociva para o seu portador. Curiosamente, tão nociva como, aparentemente, é julgado o feto por alguém que decide interromper a gravidez.
4 de Fevereiro de 2007 09:42

Vejam só! Numa página pelo Sim está a ganhar o Não
www.pelo-sim.blogspot.com Para alcançarem o espaço para votação terão de percorrer a página do blog no sentido descendente. Está à direita.


E depois de tudo isto apenas espero que não ganhe o NIM