domingo, 21 de janeiro de 2007

Porque gosto de viver em Matosinhos


Desiludam-se se estão à espera que eu vá falar do desenvolvimento urbanístico, cultural, económico, social e todas as outras coisas que fazem de uma cidade um local com qualidade ou que vá tecer elogios ou críticas a quem gere este espaço de duas freguesias que tem por nome Matosinhos. Vivo na freguesia que dá o nome à cidade e o meu gosto por viver aqui está baseado pura e essencialmente num enorme egoísmo pessoal. Descobri que Matosinhos me serve como um sapato confortável, daqueles que se calçam à primeira e não apertam os calos. Aqueles que nos apetece usar todos os dias e de que nos custa desembaraçar quando já estão cambados e gastos. Podem dizer-me que Matosinhos está assim: cambado e gasto. É natural. Talvez por isso mesmo esta terra me serve tão bem.
Nunca cresci noutro lado. A quase totalidade de recordações da minha vida está aqui. Assisti a todas as mudanças que ela sofreu nos últimos 60 anos. Como sei o que mudou e como mudou, as minhas memórias foram-se adaptando visualmente (que não emocionalmente, por vezes – ex.: a Praia do Titã) e não sofreram nenhum choque fatal ou me levaramm a perder-me ao percorrer estas ruas. O mesmo não acontece com outros sítios em que estive circunstancialmente e que resolvi revisitar – todas as vezes que o tentei não consegui reconhecer a imagem que deles guardava.
Os que vivemos no núcleo-interior de Matosinhos (será abuso chamar-lhe baixa?) de um modo geral todos nos conhecemos ou conhecemos alguém que conhece os outros, sabemos onde moram e os nossos filhos andaram nas mesmas escolas e liceus (desculpem-me: Escolas Secundárias). Se nos acontecer alguma coisa, tipo desmaiar na rua, com facilidade aparece alguém que nos identifica e avisa a família. E muitos de nós conservam os nomes por que nos reconheciam em criança. Já me aconteceu mais de uma vez telefonar para um local, dizer o meu nome e, ao não ser reconhecida, ter de explicar: “sou a Isabelinha, a da Sultana”. Para uma sexagenária, nada mau!
Nesta zona demarcada de Matosinhos os seus moradores andam geralmente a pé porque descobriram que é a forma mais rápida de chegarem aos sítios, dada a dificuldade de estacionamento (refiro-me ao legal e ao ilegal). Este pormenor é não só agradável, porque se podem ver as montras (sobretudo as dos chineses e as das lojas dos 300), como até saudável porque a marcha só faz bem. E isto é possível porque nesta terra é tudo perto. Às vezes não temos perfeitamente essa noção porque nos moldaram na dependência dos Shoppings e nos ofereceram um Metro que nos põe no centro do Porto, sem problemas e muito confortavelmente, em 30m.
Depois de uma recolha de cerca de um mês em casa, em que estive dependente da ajuda ímpar do meu marido, que se desdobrou para me resolver a vida, passei à situação de semi-recolha, o que significa que me foi autorizado sair, mas sem fazer grandes caminhadas, pegar em pesos ou esforços similares. Ao retomar o controlo da minha vida, se bem que com as tais limitações, descobri então o verdadeiro porquê de gostar de viver em Matosinhos. Num raio de 75m, contados a partir de minha casa, eu tenho acesso a um número enorme de serviços fundamentais: farmácia, talho, mercearia, confecções, retrosaria, confeitaria, tabacaria, clube de vídeo, casas de confecções, cabeleireiro, esteticista, etc., etc., etc. E com a vantagem de ser atendida de forma simpática, até familiar. A igual distância tenho ainda a Câmara, as Finanças e a Biblioteca. E pouco mais longe, a Polícia e os serviços Municipalizados
Podem dizer-me que o comércio local está desactualizado e as ruas estreitas, os passeios em mau estado, os edifícios pouco arranjados. É verdade. Mas está tudo funcional e à mão, desculpem-me, ao pé. Isso facilita tremendamente a vida dos moradores, sobretudo daqueles que por qualquer razão se deslocam com alguma dificuldade.
Compreendem agora porque razão eu comecei por dizer que o meu gosto por viver em Matosinhos é uma questão de puro egoísmo?

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